Você está visualizando atualmente Base de dados geoespaciais abrangerá os Tabuleiros Costeiros – 21/07/2020

Base de dados geoespaciais abrangerá os Tabuleiros Costeiros – 21/07/2020

As informações sobre os Tabuleiros Costeiros irão apoiar a tomada de decisão dos setores público e privado

  • Informações geoespaciais reúnem recursos naturais e aspectos socioeconômicos de relevância agrícola e ambiental.
  • Dados irão subsidiar políticas públicas para a região e decisões do setor produtivo.
  • Maior conjunto de dados já reunido sobre a região estará disponível ao público.
  • Área abrange quase todo o Nordeste, da Bahia ao Ceará.

Um grupo de 48 especialistas de diferentes instituições organizou a mais completa e integrada base de dados georreferenciados sobre a paisagem dos Tabuleiros Costeiros do Nordeste. Informações sobre recursos naturais e dados socioeconômicos georreferenciados estarão disponíveis ao público gratuitamente na internet, até o fim de 2020, e poderão ser usados por gestores públicos, pela iniciativa privada e pela própria pesquisa para subsidiar trabalhos na região. Um empreendedor agrícola poderá usar o mapa de dados pluviométricos para planejar uma plantação, por exemplo, e um gestor público será capaz de direcionar ações de desenvolvimento para áreas mais necessitadas baseando-se nos dados socioeconômicos mapeados. Essas são apenas algumas aplicações desse valioso banco de informações sobre os Tabuleiros Costeiros.

Trata-se de uma região pouco conhecida do público leigo, mas que, após definições com base em estudos territoriais profundos, abrange 575 municípios, alcançando sete dos nove estados nordestinos, estendendo-se da Bahia ao Ceará, ficando de fora apenas o Maranhão e o Piauí. 

A extensão total é de aproximadamente 224 mil quilômetros quadrados, incluindo os ambientes de Tabuleiros Costeiros, Baixada Litorânea e área de transição climática para o Semiárido, denominada Agreste. O total de habitantes na área de atuação chega a 23,6 milhões, de acordo com o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Essa é a área de atuação da Unidade da Embrapa com sede em Aracaju, capital sergipana. Um espaço territorial extenso, peculiar e diverso em seu perfil produtivo, com áreas tradicionais de monocultivo da cana, conjuntos de municípios com vocação leiteira, para hortaliças, raízes, coco, ovinos e caprinos e novas culturas menos convencionais e sistemas integrados, e uma grande maioria de propriedades pequenas de base familiar, tudo isso a distâncias não muito longas dos grandes centros urbanos do litoral nordestino.

O tamanho do esforço
O levantamento foi fruto de cinco anos de pesquisas articuladas em rede de 48 especialistas, sendo pesquisadores de três Unidades da Embrapa – Tabuleiros Costeiros (SE), Solos (RJ) e Territorial (SP), além de órgãos públicos de desenvolvimento regional, como a Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba (AESA) e a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos de Sergipe (Semarh-SE), além de instituições de ensino superior, como as Universidades Federais de Sergipe, Paraíba, Campina Grande e Pernambuco.

Base de dados

O pesquisador da Embrapa Marcus Cruz, líder do projeto em rede que gerou a base de dados, ressalta que a GeoTC, como foi batizada pelos cientistas, deverá ser um ponto focal para estudos, pesquisas e geração de subsídios para o desenvolvimento de políticas públicas voltadas para o crescimento da agricultura de forma sustentável na região de atuação da Embrapa Tabuleiros Costeiros.

Segundo Cruz, o objetivo principal foi organizar e disponibilizar informações geoespaciais sobre recursos naturais – solos, água, clima e vegetação – e aspectos socioeconômicos de relevância agrícola e ambiental na região – com interfaces claras, completas e objetivas para os usuários.

A conjugação das bases de dados previamente organizadas e disponíveis, bem como as discussões em grupo realizadas durante o desenvolvimento do projeto, contribuíram para a definição de diretrizes e a identificação de sinais de mudanças relevantes na região. Essas informações irão apoiar a tomada de decisão dos setores público e privado, aumentando a sua capacidade de responder às oportunidades e aos riscos que se apresentem ao setor agrícola e ao desenvolvimento da região.

“Com essas informações organizadas e acessíveis ao público, pretendemos subsidiar o planejamento e desenvolvimento de ações de pesquisa, desenvolvimento e inovação para a região, bem como a formulação de políticas públicas, não só para a agricultura, mas para o desenvolvimento econômico e social amplo”, afirma o pesquisador.

“A diversidade temática de demandas relacionadas ao foco de atuação da Embrapa Tabuleiros Costeiros requer uma sistematização integrada das informações disponíveis sobre os recursos naturais e os aspectos socioeconômicos que interagem na região, que são subsídio essencial para o planejamento adequado das ações”, argumenta Cruz.

Ele defende que o conhecimento organizado, na forma de informações com referência espacial, é indispensável para o eficiente planejamento da pesquisa e das políticas.

A região
Em 2014, foram adotadas medidas para atualizar o foco espacial das ações da Embrapa Tabuleiros Costeiros. Uma equipe de especialistas da Unidade revisitou os critérios de inclusão de municípios na unidade de paisagem – precipitação média anual de chuvas, índice de aridez e risco de seca – e adotou novas premissas para a definição das chamadas Áreas Adjacentes.

A adoção desses critérios levou à atualização da área para as dimensões atuais, com quase 600 municípios, mais de 22 milhões de hectares e cerca de 24 milhões de habitantes, da faixa litorânea aos limites com o Semiárido onde, um dia, a Mata Atlântica dominava a paisagem.

Para conhecer os municípios que compõem os Tabuleiros Costeiros nordestinos e as Áreas Adjacentes acesse o resumo do estudo realizado pela comissão de especialistas. O estudo completo, intitulado “Delimitação da Área Foco de Atuação da Embrapa Tabuleiros Costeiros e Principais Aspectos Fisiográficos”, está disponível aqui. Há também a base de dados Sidra, no site do IBGE, que a partir de 2016, em parceria coma Embrapa Tabuleiros Costeiros, disponibilizou dados agrícolas e econômicos para o grupo de 575 cidades.

Os Tabuleiros Costeiros se caracterizam predominantemente por áreas de relevo de plano a ondulado, com altitude média de 50 a 100 metros, e platôs de origem sedimentar que apresentam grau de entalhamento variável, ora com vales estreitos e encostas acentuadas, ora abertos com encostas suaves e fundos com amplas várzeas. De modo geral, os solos são profundos e de baixa fertilidade. O clima tropical úmido, com precipitação variando de 1200-2000 mm anuais, condiciona a ocorrência da vegetação natural e as práticas agropecuárias.

A zona mais úmida é de domínio da cana-de-açúcar e a zona mais seca, da pecuária extensiva à semiextensiva, com atividades agrícolas limitadas em médias e pequenas propriedades. O nível de intensificação e de diversificação agrícola desses sistemas depende diretamente da pluviosidade.

A principal atividade pecuária é a bovinocultura de corte e de leite, que vem passando por processo de intensificação com a introdução de pastagens. A agricultura é bastante diversificada, pois são encontradas unidades produtivas de diversos tamanhos e perfis, além de inúmeras propriedades pequenas de base familiar. Entre as principais culturas estão o milho, feijão, arroz, mandioca, hortaliças e fruteiras (laranja, banana, caju, abacaxi, entre outras), além da cana-de-açúcar, coco e fumo.

Conheça a região chamada Sealba

O conhecimento mais aprofundado das características específicas de solo e clima nos Tabuleiros Costeiros, viabilizado pela integração de dados ao longo do desenvolvimento da GeoTC, tornou possível lançar um olhar mais criterioso, inovador e arrojado sobre as potencialidades produtivas e de diversificação dos Tabuleiros Costeiros.

Isso fez com que estudos de inteligência territorial paralelos, conduzidos por meio de um projeto especial da Embrapa Tabuleiros Costeiros, identificassem uma nova fronteira agrícola no Nordeste, que engloba municípios de Sergipe, Alagoas e Bahia.

Denominada Sealba – um acrônimo formado pelas siglas dos estados componentes, de forma semelhante à região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), a região apresenta seu principal período chuvoso no outono-inverno, enquanto as demais regiões produtoras de grãos do Brasil têm seu período chuvoso na primavera-verão. 

Isso resulta em benefícios fundamentais, como colheita em época diferenciada do restante do Brasil (possibilidade de obtenção de melhores preços); possibilidade de aquisição de sementes de melhor qualidade fisiológica (sementes colhidas na região Centro-Sul e Matopiba em março e abril, quando o plantio no Sealba é de abril a junho); oportunidade de terceirização de máquinas agrícolas provenientes dessas outras regiões; desenvolvimento da soja em temperaturas mais favoráveis (como o cultivo é realizado no outono/inverno, as temperaturas, principalmente as noturnas, são mais favoráveis às necessidades da planta); oportunidade de o Sealba se tornar uma região produtora de sementes de soja de alta qualidade para o abastecimento das demais regiões; maior teor de proteína nos grãos de soja (estudos iniciais apontam teores de proteína chegando a 43% nos grãos da soja produzida no agreste sergipano – isso resulta em uma maior qualidade do farelo produzido a partir da soja da região).

Os resultados de pesquisas no Sealba nos últimos anos com cultivares de soja, milho, sistemas integrados com a gramínea braquiária e outras culturas têm despertado grande interesse entre os produtores pela diversificação. Só em Alagoas, áreas integradas com plantios de soja em alternativa ao monocultivo da cana, saltaram de 300 hectares em 2014 para quase 6 mil em 2019. 

Aumentos na adoção de sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e suas variações também têm sido significativos. 

A ampliação dos conhecimentos e tecnologias de inteligência territorial nos Tabuleiros Costeiros e Sealba tem contribuído significativamente para o desenvolvimento de cadeias produtivas e políticas públicas associadas, como a recente validação do Zoneamento Agrícola de Risco Climático dos plantios consorciados de milho com braquiária na região, a instituição da Comissão e do Programa Estadual de Incentivo à Produção de Grãos de Alagoas, entre outras iniciativas.

Saulo Coelho (MTb 1065/SE)
Embrapa Tabuleiros Costeiros

Contatos para a imprensa
tabuleiros-costeiros.imprensa@embrapa.br

{gallery}noticia41{/gallery}

Deixe um comentário