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Fazenda Lagoa Dourada | Poconé – MT Agosto/2019

ILP constrói fertilidade do solo em fazenda campeã de produtividade em soja em MT

 

Quando adquiriu a Fazenda Lagoa Dourada, na parte alta do município de Poconé (MT), no bioma Pantanal, Raul Costa Neto, encontrou pastagens plantadas há 30 anos, sem qualquer correção ou adubação do solo, em estágio avançado de degradação. Seis anos depois, o médico veterinário transformou a propriedade em campeã mato-grossense em produtividade de soja usando a integração lavoura-pecuária.

Assim como toda sua família, Raul tinha experiência com a pecuária e nenhuma prática relacionada à agricultura. Mas a necessidade de recuperar as pastagens da fazenda o levou a apostar na lavoura de soja. O objetivo era usar o grão para custear as despesas e seguir com a pecuária.

“A primeira ideia era reformar a pastagem que estava toda degradada usando soja e depois voltar boa parte da área para pecuária. No final das contas, a agricultura prevaleceu e hoje a gente faz a integração lavoura-pecuária, tendo a pecuária apenas como uma safrinha dentro do sistema”, conta o produtor.

Atualmente são 1.500 hectares em ILP, nos quais a soja é semeada em novembro na palhada da braquiária ruziziensis. Os pastos começam a ser formados antes mesmo da colheita do grão, por meio de sobressemeadura enquanto a soja está lourando. O gado entra na área pouco mais de um mês depois e fica até 15 de setembro, quando os pastos são liberados para rebrota do capim e posterior dessecação no início de outubro para reinício do ciclo.

“Antes eu tinha que produzir capim para o gado. Depois vi que era para a soja. Hoje entendo que o capim é para o solo”, relata o produtor.

Como resultado da utilização da ILP, Raul conseguiu reconstruir a fertilidade do solo, que tem média de 40% de argila.

“A partir do primeiro ano já começamos essa construção com correção com calcário e gesso, sempre buscando um equilíbrio químico-físico desse solo. E estamos conseguindo essa evolução! O exemplo maior é a questão da matéria orgânica, em que saímos de 1,5% de média e hoje estamos com 2,9%, quase 3% de matéria orgânica de média em 1.500 ha. Temos talhões batendo em 5,6% de matéria orgânica, semelhante às áreas de mata nativas aqui da região”, comemora Raul Costa Neto.

O resultado do aumento da fertilidade do solo tem aparecido na produtividade da soja. De acordo com o produtor, no primeiro ano de lavoura, foram colhidas, em média, 42 sacas por hectare. Cinco safras depois, em 2018/2019, colheu a média de 73 sacas em cada um dos 1.500 hectares de lavoura.

Trincheiras feitas na área mostram a descompactação do solo, com raízes da braquiária passando de 4 metros de profundidade e raízes de soja com nódulos viáveis a 80 cm de profundidade.

Aprendizado

Sem ter informações sobre a agricultura, Raul estudou e buscou informações com Senar-MT e com uma empresa de assistência técnica. Tomou gosto pela atividade e foi aprendendo aos poucos.

Além da dificuldade de ter de lidar com uma atividade nova, ele ainda teve enfrentar problemas relacionados ao pioneirismo na agricultura na região. Embora a fazenda esteja em área de Cerrado, o município de Poconé está no Pantanal e tradicionalmente tem a pecuária extensiva como atividade rural. Assim, não havia mão-de-obra capacitada nem mesmo tecnologia apropriada. Um exemplo é a ausência de cultivares de soja adaptadas para as condições de calor e baixa altitude.

O calor, por sua vez, é um desafio constante. Com temperaturas superando, com frequência, os 35 oC, o solo chega a 80 oC. Essa condição causou grande perda de sementes que não germinavam ou as plântulas acabavam morrendo. Como chove menos de 1.000mm/ano na região, o uso de uma boa palhada foi a solução. Porém, o produtor ainda busca junto às empresas de maquinário agrícola implementos que devolvam a cobertura ao sulco após o corte para semeadura.

A mão-de-obra utilizada é a mesma que tinha quando lidava somente com a pecuária. A solução foi capacitar e valorizar a equipe.

“Passei a desenvolver com o pessoal que trabalhava comigo na pecuária. Então todo o meu pessoal, assim como eu, não entendia de agricultura. Passamos a aprender juntos e trabalhamos com muito treinamento em conjunto com o SENAR, com a empresa que nos assessora. Enfim, a gente sempre busca uma evolução inclusive do pessoal que eu acho que é muito importante pro sucesso da propriedade”, afirma Raul.

Aperfeiçoamento

Quando sentiu que estava dominando a agricultura, o produtor buscou novos desafios. Inscreveu a fazenda Lagoa Dourada no concurso de máxima produtividade de Soja, promovido pelo Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb). Logo no primeiro ano, safra 2017/2018, no talhão escolhido para concorrer, colheu 100,41 sacas por hectare. O resultado rendeu-lhe o primeiro lugar em Mato Grosso e o terceiro no Centro-Oeste. No ano seguinte, com produtividade semelhante, voltou a vencer em Mato Grosso e terminou em segundo lugar na região Centro-Oeste.

Embora a área inscrita no concurso seja menor e com um manejo diferenciado, a experiência e as observações feitas acabam sendo úteis para o restante da fazenda. A regulagem de máquinas para plantio e colheita, o respeito às boas práticas na aplicação de defensivos e o espaçamento de plantio são alguns exemplos de detalhes que passaram a ser vistos de maneira diferente por causa do concurso.

“Uso um material com o potencial de 180 sacas e eu só estou produzindo 70… Lógico que eu não vou chegar aos 180, mas por que eu não chego nas 80, 90, 100? Com esse questionamento estou descobrindo que estou deixando de produzir em função de falta de cuidados. Eu falo que é uma questão de gestão de processos. Estou tentando minimizar as perdas pra chegar ao máximo possível de produtividade”, afirma Raul.

Pecuária

Contente com os resultados e avanços conquistados na agricultura, o produtor optou por deixar a pecuária de lado. Vendeu o rebanho e agora arrenda o pasto. A grande necessidade de forrageira de qualidade na região no período da seca faz com que ele tenha fila de espera de pecuaristas querendo alugar seus pastos de braquiária ruziziensis.

Raul explica que ainda está avaliando a melhor forma de cobrança do aluguel, se por cabeças, ou por unidade animal e também se estipula um limite de lotação. Atualmente cobra mensalmente R$ 30 por u.a., sem limite de taxa de lotação. Uma regra do contrato, entretanto, determina que o arrendatário tire todo o rebanho até 15 de setembro, para que não haja prejuízo para a lavoura.

Como não toca mais a pecuária, o produtor não mensurou resultados. Mas acredita, por observação, que a capacidade de suporte da área esteja crescendo, ficando atualmente em 3 u.a.. em média, entre abril e setembro.

 

Colaboração: Andressa Albuquerque

Jornalista: Gabriel Faria (mtb 15624/MG JP)
Embrapa Agrossilvipastoril
agrossilvipastoril.imprensa@embrapa.br

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