Na segunda-feira (26) foi realizado em São Paulo o 4° Diálogo Brasil-Japão, que tratou de pautas de interesse mútuo relativas ao comércio bilateral e possibilidades de investimentos, em especial em infraestrutura e logística para escoamento de safra. O encontro foi realizado na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), com promoção do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e do Ministério da Agricultura, Floresta e Pesca do Japão (MAFF).
O ministro japonês da Agricultura, Floresta e Pesca, Takamori Yoshikawa, participou da abertura do evento. Ele ressaltou a intenção em promover o encontro foi para que a oportunidade “reforce ainda mais a cooperação entre os países”. Na ocasião, o presidente do Conselho Superior do Agronegócio (Cosag) da Fiesp, Jacyr Costa, afirmou que “esse diálogo estreitará os laços do agronegócio entre o Brasil e Japão”.
Durante o evento, a ministra Tereza Cristina defendeu a ampliação do comércio entre os dois países, além de destacar que a agricultura constitui o eixo central desse relacionamento. “Os imigrantes japoneses e seus descendentes tiveram um papel importante no desenvolvimento da agricultura brasileira, com a introdução de novas práticas e a ocupação de novos territórios”, enfatizou.
O presidente da Embrapa, Celso Moretti destacou na ocasião as excelentes oportunidades na bioeconomia: “a agricultura é multifuncional; temos várias oportunidades de uso da agricultura, não só na produção de alimentos, fibras e bioenergia, mas passa por alimentos, nutrição e saúde, biomassa, materiais de química verde e a questão também de tradição e gastronomia”.
Nas últimas quatro décadas, as ações de cooperação técnica desenvolvidas entre o Brasil e o Japão tiveram um papel fundamental no grande salto do agronegócio brasileiro. As transformações ocorridas no Cerrado, a partir das políticas de modernização da agricultura implantadas na década de 1970, com o apoio do Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento dos Cerrados (Prodecer), via Agência de Cooperação Internacional do Japão (Jica), possibilitaram uma nova configuração econômica da região, destacou a ministra.
“A cada dia produzimos mais no mesmo espaço de terra. Não fossem os ganhos de produtividade das últimas quatro décadas, seria necessário mais do que o triplo da área atual para se produzir a safra de 241 milhões de toneladas que estamos colhendo hoje no Brasil”, comemorou Tereza Cristina. “Graças a tecnologias de manejo e genética desenvolvidas em nosso País, principalmente pela Embrapa, o Brasil é hoje referência no cultivo de duas e, às vezes, três safras anuais, e nos sistemas integrados lavoura, pecuária e floresta.”
A participação japonesa na expansão agrícola e na ocupação do Cerrado foi fundamental e fez com que esse território assumisse importância estratégica para o desenvolvimento de uma agricultura moderna, com altos índices de produtividade, segundo a ministra. Assim, é importante reforçar as parcerias já existentes e buscar novos empreendimentos que sejam mutuamente vantajosos, de acordo com ela.
Terra de oportunidades
“O Brasil é uma terra de oportunidades e um destino confiável para o capital estrangeiro. Gostaria de destacar o potencial de investimentos em infraestrutura e logística em nosso País e, em especial, no escoamento da produção agrícola”, reforçou. O fluxo comercial do agronegócio entre o dois Brasil e o Japão, quarto maior importador mundial de produtos agrícolas, cresceu mais de 130% nas últimas duas décadas. Entretanto, em 2018, a participação do Brasil nas importações agrícolas do mercado japonês foi de apenas 3,2%, menos da metade da média mundial, que é de 6,9%.
O Brasil conta com uma das mais avançadas legislações ambientais do mundo, com o Código Florestal, que mostra o compromisso em seguir o caminho da sustentabilidade, defendeu Tereza Cristina. Dentre as várias iniciativas para adequar a agropecuária brasileira, o País criou o Programa de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (Plano ABC), que estimula a adoção de diversas tecnologias de produção sustentável. Um exemplo é o plantio direto na palha, que contribui para os compromissos de redução da emissão de gases de efeito estufa e ao mesmo tempo promove o aumento da produtividade e da rentabilidade no campo pelo uso racional do solo.
“Queremos ser referência mundial e globalizar esse padrão”, ressaltou. “Os exigentes compradores globais precisam ser informados sobre a realidade da produção dos alimentos no Brasil, desde a sua origem nas fazendas até a mesa do consumidor. É fundamental que o mundo conheça o exemplo que a agricultura brasileira tem a dar em aspectos ambientais, sociais e trabalhistas”, disse a ministra, enfatizando que a agricultura brasileira não poupa esforços a fim de produzir alimentos de qualidade.
Para o presidente do Grupo Parlamentar Brasil-Japão, deputado federal Luiz Nishimori, a agricultura brasileira está consolidada e tem se preocupado com as questões ambientais e a preservação. O País tem um Código Florestal eficiente e está preparado para a abertura do mercado japonês, especialmente para o setor de carnes bovina e suína, mas também para outros produtos e frutas tropicais. O Brasil já é o principal fornecedor de produtos como carne de frango in natura, café verde, etanol e suco de laranja a esse mercado.
Pesquisa agropecuária
A contribuição da pesquisa agropecuária foi destacada pelo presidente da Empresa, Celso Moretti. “O Brasil desenvolveu uma agricultura baseada em ciência”, afirmou o presidente, ressaltando o papel da pesquisa pública e a contribuição das parcerias institucionais, incluindo as universidades, os serviços de extensão rural, os sistemas de pesquisa estadual e o setor privado.
Moretti citou as parcerias da Embrapa com o governo japonês, como o Prodecer, que ajudaram o Brasil a superar os desafios e desenvolver uma agricultura tropical sustentável. Entre as oportunidades atuais, destacou a plataforma de inteligência territorial estratégica desenvolvida pela Embrapa, um sistema da macrologística da agropecuária brasileira, que foca tanto a questão da produção como a da exportação.
Outra parceria importante é a elaboração de um projeto de pesquisa conjunto em automação e agricultura de precisão, que será submetido em um edital da Jica. Além disso, há várias oportunidades em temas ligados a agricultura 4.0, internet das coisas (IoT), inteligência artificial, sensores e biotecnologia, incluindo engenharia genética e edição genômica, desenvolvimento de espécies vegetais tolerantes à seca.
A agricultura 4.0, ou smart agriculture, foi tema da apresentação do secretário de Inovação, Desenvolvimento Rural e Irrigação do Mapa, Fernando Camargo. Ele abordou as iniciativas, desafios e possibilidades de parcerias nessa área no Brasil. “A agricultura brasileira é hoje extremamente inovadora, com altíssima produtividade e naturalmente o Brasil é um dos países que mais contribui para a segurança alimentar no mundo”, reforçou o secretário.
Camargo chamou de grandes revoluções na agricultura, pelos impactos causados, a implantação das técnicas de plantio direto, na década de 1970, e os sistemas integrados (ILP e ILPF), a partir de 1990. “E o grande diferencial daqui pra frente, para o futuro da nossa agricultura, vai ser a agricultura 4.0, a agricultura digital. Acredito que o Japão tem uma convergência muito grande conosco”, salientou.
A transformação digital no campo vai ser intensiva em uso de grande volume de dados (big data) e analytics, IoT, inteligência artificial, aprendizado de máquina (machine learning), blockchain para rastreabilidade de produtos agropecuários, automação e robótica, e integração de dados, apontou o secretário. “É uma agricultura do Brasil que poucos conhecem, mas que já existe e é uma oportunidade para parceria”, salientou, avaliando que um dos principais desafios é melhorar a conectividade do País.
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Foto: Nadir Rodrigues
Nadir Rodrigues (MTb 26.948/SP)
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