Chefe-geral da Embrapa Agroenergia falou sobre bioeconomia e as pesquisas da Embrapa
O chefe-geral da Embrapa Agroenergia Guy de Capdeville participou no dia 28 de novembro de audiência pública na Comissão Externa de Política para Integração Meio Ambiente e Economia da Câmara dos Deputados. Ele falou sobre o tema “bioeconomia” e detalhou os projetos desenvolvidos pela Embrapa dentro desta nova lógica econômica.
A palestra de Guy focou nas inúmeras soluções oferecidas pela biodiversidade brasileira para o mercado da bioeconomia, que prega a utilização de fontes renováveis e o aproveitamento total dos resíduos, ou seja, uma economia circular. “A ciência está aí para provar que podemos transformar e produzir moléculas em escala sem destruir a nossa biodiversidade”, destacou.
Entre as principais ações realizadas pela Embrapa no contexto da bioeconomia, Guy citou as pesquisas que prospectam moléculas para as indústrias de defensivos agrícolas, farmacêutica, de nutrição humana e animal, e de microrganismos fixadores de nitrogênio. “Trabalhamos com agregação de valor à biomassa, resíduos e efluentes, pois é possível ganhar dinheiro com isso”, disse.
Ele citou o exemplo da vinhaça, resíduo do etanol. Segundo Guy, a cada litro de etanol são produzidos 14 litros de vinhaça, que é utilizada na agricultura como adubo. Porém, em alta concentração, a vinhaça saliniza o solo, prejudicando seu potencial fértil. Com o uso das microalgas, a ciência descobriu que é possível reduzir a concentração de substâncias da vinhaça, o que permite que ela seja utilizada para adubar o solo sem causar dano. Além disso, a biomassa das microalgas também pode ser utilizada para a produção de biocombustível, ração animal e para a extração de açúcar.
Sobre os resíduos da própria agricultura, Capdeville mencionou espécies vegetais como a cana-de-açúcar, o capim-elefante e as tortas de algodão e pinhão-manso, detentores de alta concentração de açúcar em suas moléculas, sendo úteis, portanto, para a cogeração de energia, fabricação de nanofibras, plástico, etanol de segunda geração, tubos de PVC entre outras aplicações. “Para se ter uma ideia, metade de todo o açúcar da cana está em seu bagaço”, disse, chamando a atenção para a riqueza química deste resíduo.
O chefe-geral da Embrapa Agroenergia citou ainda alguns ativos tecnológicos disponíveis na Vitrine de Tecnologias da Embrapa Agroenergia, como moléculas para o controle de pragas, corantes obtidos a partir de recursos genéticos como o dendê, fungos utilizados como biofábricas, pesquisas com microalgas e leveduras e o uso biotecnológico de metagenomas.
“Já é possível sintetizar algumas enzimas importantes para a indústria presentes na biodiversidade. Os caprinos, por exemplo, fazem a desconstrução de biomassa alimentar de maneira muito eficiente. Com a metagenômica, podemos analisar o DNA das espécies microbianas que habitam o rúmen destes animais, identificar as sequências que formam essas enzimas e reproduzi-las em laboratório”, explicou.
Busca de novas espécies e pequenos produtores
Capdeville também falou da importância de se buscar espécies na biodiversidade brasileira para desenvolver novas matérias-primas para a indústria. Na Embrapa Agroenergia, por exemplo, há estudos com canola, pinhão-manso, soja, cana-de-açúcar, algodão e palmeiras de produtividade, como a macaúba.
“Pretendemos estimular a criação de núcleos regionais para a produção de matérias-primas em parceria com os pequenos produtores, utilizando o modelo de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF). Ou seja, ao mesmo tempo em que o agricultor planta culturas de ciclo anual para a sua subsistência, ele cultiva, por exemplo, a macaúba, que demora entre 5 e 7 anos para crescer mas tem potencial de gerar alta renda”, explicou Capdeville.
Políticas públicas e novos mercados para a bioeconomia
Capdville enumerou algumas ações que, segundo ele, serão necessárias para que o Brasil se torne forte na bioeconomia. Ele destacou a necessidade de se estruturar políticas públicas para a exploração da biodiversidade; a abertura de novos mercados; a modernização das biorrefinarias e a elaboração de programas de pesquisa fortes suportados por parcerias público-privadas e fundos públicos e privados como forma de fomento para o avanço da ciência e tecnologia.
“Para desenvolver a bioeconomia, precisamos de um novo modelo de usinas e refinarias dentro desta nova lógica que é a bioeconomia. Daqui a 20 ou 30 anos precisaremos de matérias-primas e por isso temos que trabalhar agora”, prevê Capdeville.
Audiência resultará em relatório
A audiência pública aconteceu na Comissão Externa de Política para Integração Meio Ambiente e Economia da Câmara dos Deputados e debateu o tema “Potências regionais da biodiversidade brasileira”. O deputado Paulo Ganime (RJ), que presidiu a audiência, disse que as informações compartilhadas na audiência servirão de base para a formulação de um relatório sobre a qualidade da execução e os impactos socioeconômicos das políticas públicas ambientais, com vistas a propor políticas para a integração meio ambiente e economia nacional.
Além de Capdeville, participaram o secretário de Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente, Brigadeiro Eduardo Camerini e o coordenador-geral de Extrativismo do Departamento de Estruturação Produtiva da Secretaria de Agricultura Familiar e Cooperativismo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (SAF/Mapa), Marco Aurélio Pavarino.
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Foto: Alexandre Alonso
Irene Santana (Mtb 11.354/DF)
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