Resultados da pesquisa poderão orientar políticas públicas e projetos de pesquisa para aumentar a adoção da ILP
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Você vai ler nesta matéria:
• Pesquisa ouviu produtores no Acre, Pará, Mato Grosso e Rondônia sobre a adoção da integração lavoura-pecuária.
• Entre os desafios relatados para a adoção da ILP se destacam: falta de capacitação de mão de obra, dificuldade de obtenção de crédito e logística precária.
• Trabalho detectou desconhecimento sobre as vantagens do sistema.
• Resultados vão subsidiar ações para incentivar a adoção da tecnologia.[/zt_testimonial_item][/zt_testimonial]
Pesquisadores mapearam os principais desafios para adoção dos sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP) em quatro estados: Acre, Pará, Mato Grosso e Rondônia. Fatores como a falta de mão de obra capacitada para a lavoura e pecuária, necessidade de elevado investimento inicial, dificuldade de acesso a crédito, problemas estruturais de logística e obstáculos ligados ao mercado estão entre as principais dificuldades relatadas por produtores rurais e profissionais ligados às cadeias produtivas. O trabalho também mostrou quais os caminhos para que os sistemas integrados possam ser mais adotados.
Os resultados vão subsidiar a construção de cenários futuros para ampliar a adoção de sistemas de produção integrada, considerando condições de mudanças climáticas e variações de preços de insumos nessas localidades.
Desconhecimento das vantagens
De acordo com a pesquisa, embora haja entendimento entre os produtores que adotam a tecnologia sobre seus benefícios, a maior parte dos que não fazem ILP desconhecem as vantagens dessa estratégia de produção.
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Participação internacional
Realizada entre 2015 e 2018, por meio de um projeto executado pela Embrapa, em parceria com as universidades de Boston (UB), Estados Unidos; e Wageningen (WUR), Holanda, a pesquisa teve a participação de produtores rurais, a maior parte pecuaristas, e profissionais considerados formadores de opinião no setor agropecuário nos estados analisados.
Fazem parte do trabalho os pesquisadores Judson Valentim (Embrapa Acre), Júlio César dos Reis (Embrapa Agrossilvipastoril, MT), Joice Ferreira (Embrapa Amazônia Oriental, PA) e Rachael Garret, do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique (ETHZ), na Suíça.
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“Conhecer a percepção dessas pessoas em relação às motivações e dificuldades da produção integrada e entender suas perspectivas quanto aos benefícios e impactos desses sistemas é essencial para internalizar a importância dessa forma de produzir e criar mecanismos eficazes para vencer os desafios para adoção dessa tecnologia”, diz a pesquisadora Rachael Garret, professora da Universidade de Boston (BU) à época da pesquisa e atualmente vinculada ao Instituto Federal de Tecnologia de Zurique (ETHZ).
Desafios para a adoção
Os resultados também mostraram que os produtores, sobretudo aqueles que já fazem a integração lavoura-pecuária, reconhecem como benefícios da tecnologia o aumento da competitividade e da renda, a maior produtividade do gado e a redução de riscos de mercado. Porém, muitos obstáculos também foram relatados.
Entre os principais desafios para a consolidação da ILP em localidades amazônicas, apontadas pelo estudo, destacam-se as pendências em relação à regularização fundiária e ambiental das propriedades rurais – aspecto que limita o acesso a linhas de crédito rural – a ausência de assistência técnica continuada, o alto investimento inicial necessário para a aquisição de máquinas e implementos agrícolas e a falta de informação sobre esses sistemas.
Infraestrutura é fundamental
Além disso, o estudo mostrou que os elevados preços dos produtos agropecuários e problemas na logística da produção – ocasionados pela precariedade ou ausência de estruturas de armazenamento e pela má condição das estradas para escoamento da produção – também dificultam a adoção da ILP. Os entrevistados mencionaram ainda as limitações agroclimáticas de algumas localidades amazônicas, como a baixa capacidade de drenagem e encharcamento dos solos e o excesso ou escassez de chuvas.
Outro ponto relevante é a questão cultural. Muitos produtores, principalmente os pecuaristas, preferem permanecer em uma única atividade e não assumir o risco de novos financiamentos para iniciar uma atividade incerta.
“Percebemos, nesses atores sociais, certa relutância para adotar sistemas mais complexos como ILP e ILPF. Entretanto, isso não ocorre com produtores com espírito mais inovador. Para incentivar esses perfis de produtores inovadores, muitas barreiras precisam ser quebradas”, informa Joice Ferreira, pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental (PA).
Inovação na troca de gerações
A pesquisa mostrou que uma questão-chave para driblar essa dificuldade tem sido a sucessão familiar. De acordo com o relatório final, os filhos que assumem as propriedades tendem a ser mais abertos às novidades. Entre elas, a adoção da integração lavoura-pecuária. Além disso, o acesso à informação e à assistência técnica é fundamental para a maior adoção.
A proximidade com centros de pesquisa e Unidades de Referência Tecnológica também foi apontada como fator motivador para uso da ILP. Os pesquisadores destacam ainda que, de modo geral, no Acre e no Pará as dificuldades para adotar sistemas de produção integrada são semelhantes. Já em Mato Grosso, por ser um estado com forte tradição agrícola e melhor infraestrutura de fornecedores de insumos, armazenagem e transporte, há maior tendência de uso dessa tecnologia.
Mas ao mesmo tempo em que existe um contexto favorável ao uso dessa alternativa de produção, regiões mato-grossenses que se destacam pela tradição agrícola também apresentam limitações para adoção da ILP, devido à garantia de retorno financeiro em monoculturas de soja, milho e algodão.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril, Júlio César dos Reis, os resultados obtidos com pecuaristas de Acre, Mato Grosso e Pará podem servir de parâmetro para toda a Amazônia. Porém, ele acredita que o cenário poderia ser um pouco diferente se abordasse agricultores, ou mesmo pecuaristas de outras regiões.
“No caso de agricultores, o ranqueamento das dificuldades e benefícios poderá divergir daqueles identificados na pesquisa, por serem mais ligados à questão da produção como negócio. Sendo assim, o aspecto cultural importaria menos. Se eles percebem a possibilidade de aumento de ganhos com a ILP, ficam mais propensos a mudar o sistema. Perfil semelhante pode ser encontrado com pecuaristas da Região Sul”, avalia o pesquisador.
Fatores que podem aumentar uso da ILP
De acordo com a pesquisa, a ampliação da adoção da integração lavoura-pecuária passa pela intensificação de ações de pesquisa e transferência de tecnologia e, sobretudo, por medidas no âmbito político e financeiro.
Entre as alternativas recomendadas pelos pesquisadores está a regularização da situação fundiária de um grande número de propriedades rurais; a disponibilidade de crédito mais barato, com maior carência e segurado; aumento no número de Unidades de Referência Tecnológica com ILP e ILPF; capacitação de extensionistas para ampliar os serviços de assistência técnica no campo; melhoria na infraestrutura de estradas rurais e silos; melhor acesso a maquinários e silos públicos; modernização das cadeias de valor, com recompensas aos produtores pela produção sustentável; e fornecimento de incentivos por meio do pagamento por serviços ecossistêmicos e estímulo à mudança de cultura.
“Tínhamos o entendimento de que a deficiência de assistência técnica e o distanciamento da pesquisa científica eram as maiores limitações para uso da tecnologia. Mas o estudo evidencia que contar com linhas de financiamento adequadas é tão importante quanto os demais pontos”, analisa Reis.
Segundo o especialista, os resultados da pesquisa servirão como indicadores da necessidade de mudança nas linhas de crédito existentes, como o Programa ABC, ou de criação de novas modalidades de apoio financeiro à produção.
“Em sistemas ILP e ILPF, o retorno financeiro é gradativo e a capacidade de pagamento do produtor aumenta aos poucos. Seria interessante, então, disponibilizar alternativas de crédito com maior prazo de carência e com parcelas maiores a partir de três ou quatro anos”, declara o pesquisador.
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ILP proporciona ganhos múltiplos
Estudos desenvolvidos por diferentes Unidades da Embrapa e outras instituições revelam que, ao consorciar culturas agrícolas com a produção pecuária, a ILP proporciona ganhos múltiplos. Esses sistemas utilizam melhor os insumos, aumentam a quantidade de carbono no solo, melhoram a produtividade, produzem mais alimentos com menor emissão de gases de efeito estufa, aumentam a lucratividade, reduzem os riscos e são mais resilientes às mudanças do clima.
Embora exijam maior investimento inicial, os sistemas de ILP proporcionam retorno financeiro mais rapidamente (a partir do quarto ano) quando comparados às produções contínuas de soja e milho (seis anos) ou à pecuária de corte (cinco anos).
De acordo com o pesquisador da Embrapa Acre Judson Valentim, além das vantagens econômicas e sociais, esse tipo de sistema agrega benefícios ambientais.
“Na Amazônia Legal existem cerca de 45 milhões de hectares de pastagens em algum estágio de degradação. No Acre, são aproximadamente 1,8 milhão de hectares de pastagens nessas condições. Com a integração lavoura-pecuária é possível recuperar essas áreas e reduzir a pressão sobre a floresta, permitindo conciliar produção, desenvolvimento econômico e conservação ambiental”, destaca.
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Encaminhamentos
Os resultados da pesquisa serão publicados em diferentes formatos, visando à apropriação por agentes tomadores de decisão. Outra estratégia para ampliar os conhecimentos sobre ILPF é discutir a temática em fóruns e eventos técnico-científicos. O primeiro passo nesse sentido foi dado pela Confederação Nacional de Agricultura (CNA), no fim de 2019, durante encontro realizado em Brasília (DF), com ênfase em aspectos identificados pela pesquisa que podem ser trabalhados por instituições públicas e privadas para incentivar a adoção dos sistemas ILP.
“O Brasil conseguiu se colocar como produtor mundial de alimentos, com preservação ambiental. A ILP é uma tecnologia inteligente, que possibilita aumentar a produção sem gerar pressão por abertura de novas áreas. Em sintonia com a Embrapa, pretendemos continuar crescendo nesse sentido com base científica e tecnológica”, afirmou na ocasião o presidente da Comissão Nacional de Meio Ambiente da CNA, Muni Lourenço.
De acordo com o gestor, esses estudos são importantes para orientar estratégias da confederação, tanto internamente como em sua atuação junto ao Governo Federal e ao Congresso Nacional.
Foto: Gabriel Faria
Diva Gonçalves (MTb 0148/AC)
Embrapa Acre
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