O técnico Pablo Lopes, da Coopercitrus, em atendimento no campo
Onze técnicos ligados à Coopercitrus (Cooperativa de Produtores Rurais) participaram de uma capacitação continuada oferecida em São Carlos (SP) pela Embrapa Pecuária Sudeste entre março de 2019 e março deste ano. Terminado o treinamento e, depois de visitas e palestras de sensibilização em diferentes locais para os cooperados, eles contam como têm tra o conteúdo sobre ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta) junto aos cooperados.
Para quem não sabe, ILPF é uma tecnologia que integra na mesma área a lavoura, a pecuária e a floresta como forma de otimizar a produção, melhorar a renda e reduzir as emissões de gases de efeito estufa, entre outros benefícios. A maioria dos produtores brasileiros ainda não adota o componente floresta nessas áreas, mas aderiu ao que se chama de ILP (Integração Lavoura-Pecuária).
De acordo com o analista Hélio Omote, do Setor de Transferência de Tecnologias da Embrapa Pecuária Sudeste o treinamento estimulou a implantação de Unidades Demonstrativas (UDs) em cinco regiões (Araçatuba, Mogi Guaçu, Piratininga, Ituiutaba e Itamogi). “Foram feitas uma visita em cada unidade e uma palestra de sensibilização em cada local para cooperados”, disse Hélio.
Ele conta ainda que está em fase de elaboração um Plano de Trabalho está em fase de elaboração para dar continuidade no acompanhamento da UD de Piratininga, que apresenta características para ser uma URT (Unidade de Referência Tecnológica) com alto potencial de gerar impactos positivos na adoção de sistemas de integração.
A Coopercitrus é uma das maiores cooperativas do Brasil e a maior do Estado de São Paulo na comercialização de insumos, máquinas e implementos agrícolas. Tem mais de 60 filiais, apoio técnico e estruturas para o atendimento de diversas culturas nos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Goiás, que atendem mais de 35 mil agropecuaristas, além do apoio de milhares de colaboradores.
A Embrapa é uma das integrantes da Rede ILPF, uma associação de empresas criada para acelerar uma ampla adoção das tecnologias de integração lavoura-pecuária-floresta por produtores rurais como parte de um esforço visando a intensificação sustentável da agricultura brasileira.
Veja abaixo os relatos de dois técnicos:
“INTEGRAÇÃO É O CAMINHO”
Como produtor da região de Tupã se convenceu de que ILP dá resultado
Os técnicos capacitados pela Embrapa são responsáveis por levar a tecnologia à ponta, ou seja, aos produtores rurais. Um deles, Eder Pontieri, do interior de São Paulo, conta como tem implantado a ILP na propriedade da família que ele administra. O cooperado recebe assistência do técnico Pablo Lopes há cerca de 15 anos. “Mas o suporte técnico de integração lavoura-pecuária começou há uns quatro ou cinco anos, quando iniciaram o plantio de soja para reformar a pastagem”, disse Pablo.
Depoimento do produtor Eder Pontieri
“Há quatro anos eu defini que iria reformar toda a fazenda aos poucos. Comecei com um quarto da fazenda, plantei soja e depois pasto. A ideia era fazer na fazenda toda. Hoje cheguei à conclusão de que todo ano vou fazer a integração em um terço da fazenda: vou plantar soja e depois voltar com o capim”, disse ele.
Essa propriedade fica no município de Arco Íris, região de Tupã. A história com integração começou, na verdade, há uns 17 anos. A família tinha uma fazenda de terra roxa em Ibitinga, na época em que a Embrapa lançou o sistema Barreirão [uma tecnologia de recuperação/renovação de pastagens em consórcio com culturas anuais]. “Eu comecei em uma área de pastagem degradada. Meu pai ganhava dinheiro com laranja e comprava boi. Aí degradou os pastos e eu comecei a plantar milho.”
Na ocasião, segundo Pontieri, ele cultivava o milho e jogava a semente da braquiária. Colhia o milho e a pastagem já estava integrada lá. “Assim eu fui me transformando num agricultor. Nossa formação é 85% agricultor e 15% pecuarista”, afirmou.
Aos poucos, ele foi constatando a melhora com baixo custo. Por que o milho? “Porque o Barreirão era com milho e a chuva era mais bem distribuída, e o milho era mais rentável do que a soja. Mas aí foi passando o tempo e a gente começou a ter frustração de safra ou por causa do calor excessivo em janeiro ou de estresse hídrico. Desisti do milho e comecei a migrar para a soja.”
No primeiro ano, conseguiu colher 62 sacas por hectare. “A distribuição de chuva foi perfeita. A cada 10 dias chovia um pouco. Chegou nesse teto produtivo”, contou. Depois da soja, Pontieri plantou sorgo. O plano era ficar dois anos ‘engordando’ a terra e depois entraria com a pastagem.
Por causa de ervas daninhas, a experiência não foi bem sucedida. A segunda safra de soja foi pior que a primeira. “Eu gastei mais dinheiro para melhorar o solo e produziu menos. Pensei: preciso mudar isso.”
E mudou. No terceiro ano, em vez de fazer safrinha de sorgo, Pontieri plantou capim. “Foi uma alegria. Essa pastagem de inverno foi mais lucrativa”, lembra. Hoje, com apoio do Pablo, o projeto é tirar a soja em março ou abril e plantar o capim piatã. “Então ficou assim: quatro meses de soja, 19 meses de piatã, desseco e planto soja de novo. E assim sucessivamente. A ideia não é adubar pasto, mas adubar o sistema com a própria soja, sem comprar adubo fora.”
A fazenda não tem mais pastagem degradada e a lotação aumentou duas vezes e meia. “Antes a gente desmamava os bezerros e o gado perdia peso na seca. Agora ganha peso na pastagem de inverno. Não tem mais boi sanfona. Isso acabou. Soja não dá lucro, mas dobrou a lucratividade da pecuária por causa da oferta maior de forragem.”
A família Pontieri tem propriedades rurais há 105 anos. Ele mora em Itápolis. Disse ter consciência que a pecuária extensiva não se sustenta. “Me alegra os olhos e a alma ver a propriedade cada vez mais bonita, mais produtiva e com um gado cada vez melhor lá dentro. Sou daqueles que – está bom? Está! Mas vamos melhorar mais um pouco?”.
Para o pecuarista que nunca mexeu com agricultura, Pontieri recomenda prudência. “É bom começar com uma área pequena, se tem vontade de plantar. Se não tem talento e nunca fez, sugiro fazer uma parceria com agricultor. Comecem porque é o caminho.”
Foto: Pablo Lopes
Ana Maio (Mtb 21.928)
Embrapa Pecuária Sudeste
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