O Sistema Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) tem como principal diferença permitir ao homem do campo poder realizar uma produção maior e mais diversificada de maneira econômica, social e ambientalmente sustentável.
É o caso da Fazenda Santa Barbara, de 48 hectares, localizada no município de Quirinópolis de Goiás, a 272 km de Goiânia, onde vive José Ferreira Pinto, mais conhecido como ‘Nego’.
Desde que adquiriu a propriedade, por volta de 1980, José Ferreira produziu arroz até a década de 1990, quando, não muito satisfeito com a renda, passou a se dedicar à pecuária leiteira como atividade principal.
Devido a questões de custos operacionais e de mercado, no trato das vacas com silagem e ração, em 2016, o proprietário da Fazenda decidiu integrar à produção leiteira, o componente florestal, com o cultivo de eucalipto, algo totalmente novo e que transformou o cenário da propriedade.
A partir daí, com a implantação do Sistema Pecuária-Floresta (IPF) na propriedade ficou claro para ele as vantagens da adoção deste sistema como forma de incrementar a produção e produtividade leiteira, contribuindo no aumento de renda da família com a comercialização do eucalipto.
“Antes, só com a produção leiteira eu produzia, em média, 550 litros de leite/dia, num rebanho de 65 vacas, sendo 48 em lactação; isto me rendeu retorno de R$ 41.580,00 ao ano, considerando o custo operacional efetivo”, explica.
Mas, com a adoção do componente madeira, a propriedade passou a contar também com a renda de 40 metros de esteios (metro de lenha amontoada no campo) proveniente de aproximadamente 500 árvores/ha, vendidos ao preço de R$ 35,00 o metro da floresta, em pé. Isto incorporou uma renda extra de R$ 4.200,00 ha/ano. Ou seja, o componente floresta gerou, na propriedade, um aumento na renda em torno de 10%.
O eucalipto, neste processo, é essência florestal mais plantada, não só em Goiás, mas em todo território nacional, cultivado tanto em monocultivos quanto em sistemas agroflorestais (SAFs) nas modalidades de integração lavoura-pecuária-floresta (sistema Agrossilvipastoril), integração pecuária-floresta (sistema silvipastoril) e integração lavoura-floresta (sistema silviagrícola).
Para Abílio Pacheco, pesquisador da Embrapa Florestas, é importante considerar que, na adoção de IPF em Quirinópolis, além dos valores de produção que são mensurados, são incluídos aí, também, os incrementos indiretos, como a recuperação e renovação de pastagem, principalmente entre as faixas das árvores, seguido da cobertura do solo com braquiárias e valorização de créditos de carbono gerados pelas florestas.
Agricultura de Baixa Emissão de Carbono – Outras potencialidades de florestas plantadas em Goiás tratam sobre o aumento na utilização do eucalipto como multiproduto, ou seja, além do reconhecimento e ampliação do mérito do setor florestal na economia local, existe a valorização por créditos de carbono gerados pelas florestas em crescimento, que é incentivada por diversas ações governamentais brasileiras, com o objetivo de encorajar o desenvolvimento econômico, atrelado às questões de proteção e de sustentabilidade ambiental.
Entre as ações de emissão de baixo carbono, se destaca o Programa Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (Plano ABC), criado pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa).
A ação tem como objetivo buscar alternativas de baixa emissão de carbono de forma a assegurar a adoção de tecnologias que proporcionem a recuperação da capacidade produtiva dos solos para o aumento da produtividade e a redução da emissão de gases do efeito estufa.
O Plano ABC objetiva ainda recuperar cerca de 15 milhões de hectares de pastagens degradadas, ampliar outros quatro milhões para uso dos sistemas agroflorestais e expandir a área de florestas plantadas em três milhões/ha no país.
Parcerias e assistência técnica – Além de oferecer sombra para os animais e cobertura para o solo, como foi destacado, o eucalipto supre as necessidades internas da propriedade. Mas, os produtores de Quirinópolis não estão sozinhos nesta ação; nesse processo de busca de novas alternativas e possibilidades de produção eles contam com o apoio e assistência técnica-operacional de associações e centros estadual de pesquisa e extensão.
Contam, ainda, com um componente diferenciado no serviço de assistência técnica da região, que é a parceria com o Instituto Rural de Desenvolvimento Social e Econômico de Goiás – Instituto Casa da Abelha, uma associação, sem fins lucrativos, que atua em rede com os pequenos produtores de leite da região, com sede em Quirinópolis. O Instituto conta com 300 associados, na maioria pequenos e médios produtores voltados à pecuária leiteira, que buscam por melhor produtividade e qualidade de vida no campo, auxiliando na estruturação e desenvolvimento de negócios da cadeia produtiva de leite.
Foi a partir destas parcerias que José Ferreira pode perceber que, onde não dava mais nada para plantar, com a introdução do componente arbóreo, começou a surgir um efeito importante com o conforto térmico gerado pelas sombras das árvores, o que refletiu na produtividade animal, além de gerar renda adicional na comercialização de madeira.
Vendo o potencial de desenvolvimento para a região, outras instituições passaram a apoiar a implantação da URT em ILPF na região, além da Emater de Quirinópolis, da Embrapa Arroz e Feijão, Embrapa Florestas e da Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de Goiás (Fapeg), dando suporte tanto na parte de orientações técnicas, estruturação, fomento à pesquisa e desenvolvimento.
Passaram, também a apoiar a implantação do sistema ILPF na região o Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a Federação de Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural em Goiás (Senar Goiás) e a Prefeitura de Quirinópolis.
A partir desta experiência com os pequenos produtores rurais de Quirinópolis, ficam aparentes as vantagens da adoção do Sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), que comprova ser possível ao agricultor alcançar melhores rendimentos na produção de alimentos como carne, leite e grãos ou madeira para energia, construção civil e movelaria, em áreas antropizadas (já alteradas pelo homem). Concomitante, tem-ser também a recuperação ou renovação de pastagens, entre as faixas de árvores, seguido de capim para pasto (Brachiaria ruzizienses), de forma mais rápida e econômica, tanto em pequenas propriedades ou em áreas maiores.
Hélio Magalhães (DRT MG 4911)
Embrapa Arroz e Feijão
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