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Estância Vanda | Paranaíta – MT – Julho/2018

Necessidade de sombra leva produtor de leite a usar a ILPF em Mato Grosso

Quando se mudou do Paraná para o município de Paranaíta, no norte de Mato Grosso, em 2010, o produtor de leite Nivaldo Michetti teve de encarar entre muitos desafios, as altas temperaturas da Amazônia. E foi justamente a necessidade de oferecer sombra e conforto térmico para seu gado de sangue europeu que o levou a usar a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) na Estância Vanda.

A propriedade tem 100 hectares, sendo que 35 hectares são de reserva. Da área produtiva, 24 hectares já estão em ILPF e são usados para a produção leiteira. A área restante é formada por pastos destinados à pecuária de corte, que em breve também serão arborizados.

Conhecido no meio leiteiro em todo o país como um entusiasta da pecuária de leite e motivador da agricultura familiar, Nivaldo Michetti deixou uma vida relativamente confortável na propriedade que conduzia no Paraná para encaram um desafio em Mato Grosso. Queria mostrar que era possível produzir leite em pequenas propriedades com lucro e sem necessidade de grandes investimentos, desde que usando a terra com os preceitos corretos das ciências agrárias. Além disso, queria transmitir um pouco do conhecimento adquirido em 35 anos de atividade para produtores de outra região do país.

Para cumprir seu objetivo, buscou uma área degrada. Queria mostrar que era possível transformar a terra em qualquer condição. Sete anos após a chegada à área, a Estância Vanda faz brilharem os olhos de quem a visita. Quem viu a “terra de cemitério” adquirida por sr. Nivaldo, como ele mesmo ouviu dizerem na época, e passa hoje pela Estância, se impressiona com a transformação.

Após a correção do solo e adubação, os pastos foram reformados. Como o capim Marandu acabou não resistindo aos solos encharcados e sucumbindo com a síndrome da morte do brizantão, hoje os piquetes demonstram uma variedade de capins, entre cultivares de Panicum, Braquiárias e Cynodon.

A formação dos pastos foi feita em uma rotação com a agricultura, principalmente com lavouras de milho, usadas para produção de silagem para o gado.

Acostumado a trabalhar com rebanho formado pelo cruzamento de gado Jersey com Holandês no Paraná, optou-se por manter o plantel de sangue europeu. A opção se deu tanto pelas características produtivas quanto pela docilidade do rebanho, condição demandada pela sra. Vanda, esposa de Nivaldo e responsável pela ordenha.

“Nosso rebanho tem se comportado bem. Tirei jovens animais de minha propriedade no Paraná e trouxe para cá há sete anos. Não posso dizer que é o melhor gado para se trabalhar na região, mas eu me dei bem. O grande tabu, o grande risco, que é o carrapato a gente tem conseguido contornar bem”, afirma Nivaldo Michetti.

Conforto térmico

Para manter a produtividade do rebanho europeu com temperaturas sempre acima de 30°C era necessário ter sombra. A primeira opção foi usar sombrites, porém o vento, a chuva e o próprio sol mostraram que essa não era a melhor estratégia. A opção então foi por plantar árvores.

A partir de 2014 começou a plantar mudas de eucalipto e mogno africano em linhas simples com espaçamento de 35 metros entre elas. No entre-renque conduziu lavoura de milho na fase inicial das árvores e depois isolou-as com uma cerca de um fio eletrificado.

“Usamos 35 metros considerando que estamos no bioma Amazônico, onde as árvores crescem muito rapidamente. Então pensamos que se fizéssemos num espaçamento menor, talvez tivéssemos excesso de sombra”, explica.

Incialmente foi plantando as árvores nos piquetes em que havia necessidade de reformar a pastagem. Adubava a área, fazia a semeadura direta do milho e simultaneamente plantava as árvores.

“Muitas vezes até não tinha necessidade de reformar aquela pastagem. Mas como a gente via a importância da sombra e queria tê-la em todo sistema, nós adiantávamos o processo. Hoje não, nós reformamos a pastagem na necessidade de se reformar e fazer a adubação”, diz o produtor.

A sombra das árvores resolveu o problema da ambiência, gerando conforto térmico para o gado. Porém, além disso, outros benefícios foram notados pelo produtor.

“Muito cedo percebi a oportunidade de usar madeira. Estamos numa região de pecuária extensiva. Temos milhões de quilômetros de cerca que vão ter que ser reformadas ou hoje ou daqui a 20 anos. Onde que vamos dispor de madeira se não plantarmos. Aquilo que era uma necessidade de sombra no passado passou a mostrar uma oportunidade maior”, analista o produtor que ainda destacas benefícios para o próprio sistema.

“O que a gente percebe é que as pastagens entre as árvores se comportam melhor. As lavouras são protegidas do vento.A árvore tem uma capacidade maravilhosa de reciclar os nutriente que as outras plantas já perderam pela lixiviação. A árvore consegue buscar lá nas profundezas e trazer para a superfície em forma de galhos e folhas que amanhã vão cair. Fiquei muito curioso, pois aquilo que era uma necessidade exclusiva de sombra, hoje se mostra como uma oportunidade muito maior do que sombra”, afirma Nivaldo Michetti.

Produção

De acordo com o produtor, o sistema de integração lavoura-pecuária-floresta facilitou o manejo do gado e possibilitou melhores resultados. Antes as vacas precisavam caminhar para chegar à sombra em áreas de mata ciliar e para voltar a pastejar.

“Como temos sombra a vontade, de certa qualidade e perto, a gente se beneficiou muito disso e os animais se beneficiaram de mais”, afirma.

Com as vacas tendo acesso à sombra, e com alimento em abundância, a produção de leite da fazenda tem agradado o produtor.

 

“Temos uma média durante as águas entre 17 e 18 litros e na seca entre 20 e 21. Nós conseguimos uma ótima persistência em lactação, que é o que a gente mais busca. Tanto que com um rebanho pequeno, nós temos uma produção que considero boa. Temos conseguido manter em torno de 75% das vacas em lactação, o que considero um bom desempenho. Um dos grandes problemas da região é não se conseguir ter mais de 50% das vacas em lactação”, afirma Nivaldo Michetti.

Referência

Assim como era no Paraná, com pouco tempo no norte de Mato Grosso, sr. Nivaldo já se tornou uma referência na região. Porém, para surpresa dela, os pecuaristas de corte são aqueles que mais lhe procuram para aprender um pouco com a experiência exitosa na Estância Vanda.

“Eu digo para procurar informação. O que a gente precisa para se desenvolver é muito básico. Primeiro uma abertura completa para a informação. Um dos grandes problemas que eu creio é a gente se julgar capaz, a gente se julgar conhecedor. O mundo passa por uma transformação a todo momento. A gente tem que acompanhar. Existe hoje informação muito além do que eu preciso aqui. Agora, tem que ser humilde o suficiente para saber que precisa buscar informação” avalia.

 

ILPF na pecuária de leite – Entrevista Nivaldo Michetti (Estância Vanda)

 

 

 

 

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