ILP começou como uma alternativa para reduzir custos em reforma de pastos, hoje a técnica está presente até mesmo na visão de negócio da Fazenda Brasil
Desde que foi adquirida, em 2007, a Fazenda Brasil, localizada no município de Barra do Garças (MT), apostou na integração lavoura-pecuária como estratégia para recuperar pastagens em áreas com baixa fertilidade. A iniciativa deu tão certo que o sistema produtivo foi incorporado na visão de negócio do Grupo Agropecuária Fazenda Brasil. Em várias instalações da propriedade, empregados e visitantes leem em banners e cartazes os seguintes dizeres:
“Visão: ser referência na integração Agricultura-Pecuária por meio de inovações e das melhores práticas e tecnologias disponíveis, com ênfase em governança e sustentabilidade”.
Com o passar do tempo, a propriedade, localizada aos pés da serra do Roncador, tem atingido o seu objetivo e, como um exemplo de êxito na adoção da ILP, está contribuindo para a disseminação de informações para toda a região do Vale do Araguaia. Visitas técnicas recebidas frequentemente e dias de campo realizados no local contribuem para isso.
Estratégia de integração
Dez anos após o início dos trabalhos a fazenda já faz ILP em cerca de 3 mil hectares, o que representa três quartos da área produtiva. O sistema adotado desseca a pastagem, retira as cercas para facilitar as manobras do maquinário, corrige o solo e faz o plantio direto de soja. Quando as chuvas favorecem, é feito na sequência o plantio de milheto ou Bracharia ruziziensis como forma de cobertura. Nos anos em que há semeadura da ruziziensis, animais de recria chegam a ganhar até três arrobas em três meses nesse pasto safrinha antes dele ser dessecado novamente para o plantio de soja.
Após três anos seguidos com lavoura, é feita a sobressemeadura da soja com Brachiaria brizantha cv. Marandu, as cercas são recolocadas e a pecuária retorna a área por mais cinco anos.
“Depois dessa recuperação a gente não deixa mais que a pastagem se degrade. A gente continua fazendo o investimento em manter a fertilidade do solo mesmo nas pastagem pós soja. Isso para que, quando a soja retorne daqui a quatro ou cinco anos, ela não retorne mais em uma área degradada e sim em uma área onde só precisa fazer a manutenção de fertilidade”, explica o gerente geral da agricultura do Grupo, Handerson Paulo da Cruz.
Com esse sistema, os ganhos obtidos com a venda dos grãos amortizam os custos com a recuperação das pastagens. Além disso, Handerson ainda destaca as melhorias obtidas na produtividade tanto da agricultura quanto da pecuária.
“Existe tanto a melhoria ao longo dos anos da produtividade da agricultura quanto a evolução na recuperação na fertilidade dos talhões. Quando a gente volta com atividade pecuária a gente consegue uma lotação maior, por um período maior, e com melhor produtividade de arrobas por hectare”, afirma Handerson.
Outro aspecto que ele destaca é o melhor uso de áreas onde o clima não favorece o cultivo do milho safrinha.
“Áreas que normalmente seriam cultivadas com milheto pós soja, acabam recebendo Brachiaria ruziziensis e, consequente, a produção do componente pecuario. Além de proporcionar a melhoria fisica, quimica e biologica do solo para o próximo cultivo agrícola”, destaca Handerson.
Matéria orgânica
Outro benefício da ILP que é claramente percebido por quem anda pela Fazenda Brasil é o aumento da matéria orgânica no solo. Basta pegar um punhado de terra em uma lavoura para perceber a riqueza de restos da braquiária. Em uma região onde o período chuvoso é curto, essa condição ajuda a proteger o solo, evita a compactação e mantém a umidade por mais tempo.
Como a Fazenda Brasil trabalha com ciclo completo de pecuária e tem um confinamento com capacidade para 8.500 animais, há também uma grande disponibilidade de esterco. Para melhor utilizar o recurso, ele é espalhado nos talhões, complementando a fertilidade do solo. De acordo com Handerson, isso reduz os gastos com fertilizantes químicos e já garantiu a condução de lavoura sem uso de outro tipo de adubo, colhendo as mesmas médias do restante da propriedade.
Componente arbóreo
Após a experiência bem sucedida com a integração lavoura-pecuária, a Fazenda Brasil aceitou um convite da Embrapa e montou em uma área de 110 hectares uma Unidade de Referência Tecnológica agregando o componente arbóreo. O sistema de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) foi montado em parcelas com distância de 23 metros entre os renques, possibilitando uma passagem da barra do pulverizador usado na propriedade (21 m), mais um metro de folga em cada lado.
Como espécie florestal foram testados materiais seminais e clones de eucalipto em linhas simples, duplas e triplas, teca, nim, acácia, cultivos mistos de eucalipto com acácia e eucalipto com teca, e espécies nativas como mogno, baru, pequi, jatobá e guaritá.
Durante os quatro primeiros anos, a área entre renques foi cultivada como soja na safra e milheto ou ruziziensis na safrinha. No quarto ano foi feita a sobressemeadura do capim marandu e animais de corte passaram a pastejar no local, aproveitando o conforto térmico proporcionado pela sombra das árvores.
Devido ao crescimento lento, as espécies nativas destacaram-se negativamente. O mogno, por exemplo, teve elevada taxa de mortalidade, enquanto o guaritá teve alto índice de bifurcação. Entretanto, apenar da entra dos animais na área com as árvores ainda com porte baixo, não foram identificados problemas de quebra causados pelo gado.
Nos demais tratamentos, aquele com clones de eucalipto em linha simples, em renques de 23 metros obtiveram os melhores resultados na relação à sobrevivência, crescimento e volume de madeira produzido por área ocupada no sistema.
Dificuldade com mercado
A escolha dos materiais de eucalipto e da acácia tinha como principal objetivo produzir lenha para uso no secador de grãos da fazenda. Porém, por uma série de motivos, o cenário da fazenda mudou e a lenha deixou de ser interessante para a propriedade no momento. Com isso, as árvores continuam de pé e atualmente a busca é por novos mercados e a utilização da madeira tratada na própria propriedade na forma de estacas para cerca.
“A lenha está com preço baixo e a fazenda está com excesso de lenha proveniente de outras áreas”, explica o pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril Hélio Tonini, responsável pelo acompanhamento da URT.
Parte das árvores será direcionada para o uso em serraria, agregando valor. Outras poderão ser usadas para atender à demanda da fazenda por mourões e lascas para cerca. Porém, a inexistência de estrutura para tratar a madeira na região tem sido uma dificuldade.
“Projetar no futuro esse ganho da espécie florestal é desafiador. Hoje, por exemplo, nossas árvores estão em idade de corte e o mercado, principalmente de eucalipto, que é a principal variedade exótica que tem aqui, está em baixa. Na época a gente visou espécies florestais tanto pra lenha quanto para serraria, quanto para postes e para cerca. A gente ainda tem desafios quanto a encaixar isso no mercado ou usar dentro da própria fazenda”, pondera Handerson.
Handerson também lembra que dificuldades iniciais no manejo da área prejudicaram o componente florestal, com a ocorrência de deriva de herbicidas, por exemplo.
“Ao longo dos quatro anos do cultivo de soja junto com as espécies florestais, nós fomos gerando informações e aprendendo, tanto as coisas boas quanto os erros que a gente cometeu ou que a própria integração proporcionou aqui na URT. Nós fomos aprendendo e corrigindo, definindo quais seriam as melhores técnicas, a melhor espécie o melhor arranjo pra se implantar em áreas comerciais aqui da fazenda”, conta o gerente.
Apesar dos percalços, ele considera a experiência positiva. Tanto que chegou a expandir a área com ILPF na propriedade, adotando como modelo renques de linhas simples de eucalipto plantadas sobre curvas de nível.
Outra conclusão da experiência foi sobre o benefício do sombreamento para o bem-estar animal, principalmente de gado mestiço. Atualmente mudas de diferentes espécies vem sendo plantadas em beiras de cercas e nas áreas de lazer dos piquetes.
Segurança econômica
Além dos benefícios de ganhos de produção, melhoria da fertilidade do solo e redução de custos com fertilizantes, a ILPF também trouxe maior segurança para a Fazenda Brasil. Uma pesquisa realizada em parceria pela Embrapa, Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) e Rede de Fomento ILPF, levando em consideração a configuração de ILPF com linhas triplas de eucalipto H13, mostrou que no período de 2010 a 2017 o sistema ILPF na fazenda Brasil apresentou maior capacidade de geração de receita, com valor presente líquido (VPL) de R$ 370,60 por hectare, enquanto o sistema mais comum na região, com a sucessão soja/milho gerou R$ 113,80.
O índice de lucratividade da ILPF também foi maior, com retorno de R$ 0,89 para cada R$ 1 investido, contra R$ 0,35 de retorno para a agricultura.
“Embora mais complexos e exigentes em termos de planejamento, a ILPF se mostra uma estratégia economicamente viável para a promoção de uma agropecuária de elevada produtividade com respeito ao meio ambiente”, analisa o pesquisador da Embrapa Júlio César dos Reis.
Os números foram calculados em 2015 com base na produtividade real da fazenda e com algumas extrapolações com projeções de preços de mercado. Mesmo que a desvalorização da madeira nos últimos anos tenha reduzido o potencial de lucro, a diversificação do sistema ainda garante maior equilíbrio nas receitas da propriedade, gerando segurança para o produtor.
Saiba mais sobre a avaliação econômica aqui
Gabriel Faria (mtb 15.624 MG JP)
Embrapa Agrossilvipastoril
agrossilvipastoril.imprensa@embrapa.br
66 3211-4227
Colaboração: Vanessa Kienen
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