Palestrantes
Como será o mundo pós-pandemia e como o Brasil deverá se posicionar quanto ao cenário da segurança alimentar e da estabilidade ambiental do planeta? De que forma o país pode valorizar seus produtos, reforçar a competividade e encontrar formas de fortalecer o desenvolvimento econômico e social, mantendo a liderança no ranking dos maiores produtores e exportadores de alimentos?
Durante uma hora e meia, especialistas em áreas estratégicas, acompanhados por um público que superou a marca de 1.500 internautas, refletiram sobre as possibilidades, os erros e o potencial brasileiro de aproveitar as oportunidades de superar os desafios do mercado internacional, com sustentabilidade. Promovido pela Embrapa Meio Ambiente, na semana passada, no Dia Mundial do Meio Ambiente (5/6), o encontro fez parte do Fórum Agricultura e Meio Ambiente 2020. A transmissão foi feita pelo canal da Embrapa no YouTube.
A discussão técnica teve a presença do professor Marcos Fava Neves, da Faculdade de Economia e Administração da USP, e de Marcello Brito, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), com mediação do jornalista José Luiz Tejon.
Para contextualizar o desenvolvimento da agricultura brasileira e as formas de conciliação com a sustentabilidade, o presidente Celso Moretti, que participou da abertura, lembrou a trajetória do agro nas últimas cinco décadas, quando o país deixou a categoria de importador para se transformar em um dos maiores exportadores de alimentos.
“Em função do investimento em pesquisa, desenvolvimento e inovação, aliado ao desempenho de empresários rurais, foi possível ao Brasil alcançar o posto de um dos principais players globais de alimentos, fibra e bioenergia”, disse. Ele ressaltou a agenda de exportação nacional para mais de 180 países, por meio da agricultura movida a ciência. “Se eu pudesse sumarizar o que aconteceu, o faria em três grandes pilares: a transformação do cerrado em terras férteis, a tropicalização de cultivos e espécies, o desenvolvimento de uma plataforma sustentável do uso de intensificação, controle biológico, fixação biológica de nitrogênio e agricultura de baixo carbono”, destacou.
Moretti falou ainda sobre o Código Florestal, que tem disciplinado o uso da terra no país, e o Plano ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono), com o qual a Embrapa Meio Ambiente tem contribuído ao longo dos anos, gerando informações e possibilitando que o Brasil produza e alimente 1,4 bilhão de pessoas no mundo, de forma sustentável. “O produtor brasileiro, segundo dados de análise do Cadastro Ambiental Rural (CAR), preserva um quarto do território nacional dentro das propriedades rurais”, destacou.
Contribuições à sustentabilidade
Sobre o trabalho da Embrapa Meio Ambiente, o presidente chamou a atenção para o desempenho nas discussões da política pública de biocombustíveis, o RenovaBio. “A Embrapa Meio Ambiente também participou ativamente dos debates em torno do uso racional de agrotóxicos, e em todo o trabalho relacionado à produção integrada”, completou.
Em participação realizada diretamente do Ministério da Agricultura (Mapa), Moretti transmitiu a mensagem de cumprimentos da ministra Tereza Cristina e destacou o trabalho desenvolvido pela pasta, buscando mostrar que a agricultura brasileira é competitiva e sustentável. “A ministra tem viajado pelo mundo e já conseguiu a abertura de mercados para mais de 60 produtos brasileiros”, disse.
Marcelo Morandi, chefe-geral da Embrapa Meio Ambiente, agradeceu a presença de todos e também ao ex-secretário do Meio Ambiente de São Paulo e deputado Arnaldo Jardim, pelo apoio à Embrapa e à pesquisa agropecuária. Para o gestor, o Dia Mundial do Meio Ambiente é uma oportunidade de discutir temas importantes, que agregam valor ao agro brasileiro. “Sustentabilidade é um ativo ambiental, social e econômico, principalmente nesse cenário mundial que exige segurança alimentar e segurança ambiental. A Embrapa Meio Ambiente tem buscado sempre a sustentabilidade da agricultura, com base em inovação e tecnologia”, disse.
Marcello Brito, presidente da Abag, parabenizou os agroambientalistas que promovem, produzem e preservam o pais, que cresceu fazendo uso da terra. “Que país que tem um prato de comida saudável a menos de R$ 10? Ou seja, temos um agro extremamente relevante, com preservação e reservas legais, carbono armazenado para o bem mundial”, destacou. “E não sabemos ainda cuidar da Amazônia”, comentou. Brito disse que esse efeito negativo compromete a imagem do agro nacional. “Podemos produzir mais com menos desmatamento e fazer surgir o país da bioeconomia, das florestas e de alimentos, uma potência ambiental e alimentar”.
E lançou as questões: qual outro país pode ser ao mesmo tempo um megapotência ambiental e uma megapotência alimentar? Em que outro setor, senão o agroalimentar, o Brasil pode ser líder mundial? Em que outro país a bioeconomia da floresta pode se conectar tão bem com a bioeconomia do agronegócio consolidado? “A Amazônia tem que ser o foco e, se conseguirmos unir esses fatores, não haverá no mundo quem possa competir com o Brasil. Em 2019 se desmatou 30% a mais que em 2018”, lembrou. “Temos que pensar em temas cruciais, combater o desmatamento, aplicação de leis. O agro precisa levantar a bandeira e fazer uma campanha pelo Brasil”.
O mediador do debate, o jornalista José Luiz Tejon, chamou a atenção para o momento atual. “No livro ‘A Marcha da Insensatez: de Troia ao Vietnã’, da historiadora Barbara W. Tuchman, temos a oportunidade de refletir sobre como organizar a sensatez: é preciso produzir, preservar e promover, porque se a gente não promove, ninguém fica sabendo”, disse, referindo-se à importância da comunicação. O jornalista também deu como exemplo o faturamento da Amazon, que fatura o dobro do PIB dos estados do bioma Amazônia. “Isso é extremamente estimulante e motivador para que a gente tenha ideias sensatas para que o bioma possa acompanhar o faturamento de uma organização que tem o mesmo nome”, comparou.
Estratégias para o futuro
O professor Marcos Fava defendeu o posicionamento do Brasil como produtor de comida, “uma coisa que é simpática para pessoas”, ressaltando que a oportunidade está aberta e que é preciso desenvolver a sociedade brasileira, capturando e compartilhando resultados do agro. “Isso é possível de ser conquistado com base em uma estratégia baseada em três pilares: custo, diferenciação e ação coletiva”, explicou.
Sobre as formas de reforçar as estratégias voltadas a custos, o professor destacou o fortalecimento da educação e da capacitação, inovação, P&D, genética 5.0, gestão por metro quadrado da propriedade (em vez do conceito de hectare), crédito, financiamento, riscos, excelência operacional, eficiência de instituições, respeito aos contratos, confiança nas relações e digitalização. “Por exemplo, nos últimos meses, fomos muito criativos para desenvolver aplicativos que vão melhorar o home office, contribuindo com o nosso custo de produção, permitindo ligar compradores e vendedores de uma maneira sensacional”, explicou.
Infraestrutura de armazenagem, transporte, regionalização dos negócios locais, redução de transportes longos, economia circular, bioinsumos, controle biológico e combate ao desperdício também foram citados como motivadores de reflexão para que sejam atingidos os objetivos de desenvolvimento para o país no setor.
Para ele, a base da agenda no triângulo da busca de ser um fornecedor mundial de alimentos é o cuidado com os custos. O segundo pilar é a diferenciação: o Brasil deve se diferenciar pela excelência dos produtos, qualidade e segurança. “Comprar do Brasil deve construir valor, porque o Brasil, além de entregar um produto saudável, permite margem para revender, chegar ao varejo, ter produção certificada, contribuir para a redução da fome no mundo, pelos serviços oferecidos, pela conveniência, pelos cientistas que tem, pelas identidades de marca, pela comunicação, pelos casos de empresas e empreendedores que temos com uma história de sucesso pra contar”, disse. O professor chamou a atenção ainda para o fato de que trajetórias de pequenos, médios e grandes empreendedores ficam guardadas, podendo ser usadas para a busca dos diferenciais.
Segundo Fava, o Código Florestal deve ser mais explorado, assim como a questão ambiental, o bioetanol. “O Brasil é o pais que tem a maior participação de combustíveis renováveis na sua matriz, e São Paulo é a megalópole do mundo com a matriz de combustível mais limpa, e a gente não explora isso”, alertou. Ele destacou os 45% da energia renovável do Brasil, um país low carbon, e o sistema ILPF, vantagens que poderiam complementar a questão do custo e integrar valor para quem compra. “Sobre a Amazônia, talvez nem 10% dos 7,5 bilhões de habitantes do mundo sabe o que é”, disse.
Fava lembrou ainda dos brasileiros de origem indígena, cujo potencial deve ser valorizado pela sociedade mundial. “Temos inúmeros exemplos de potencial de diferenciação sensacional, palavras fortes que o Brasil tem, e elas entram na equação negativa”.
Definindo-se como fã da ação coletiva, do associativismo, das alianças estratégicas e das organizações, o professor disse que pra atingir esse posicionamento é preciso integrar. “Acredito que no pós-pandemia, com a mudança comportamental que parte da sociedade vai ter, esse tipo de organização vai voltar com força total”, comentou. “E acho que é possível o Brasil atingir esse posicionamento, mas é um trabalho a partir de agora, trazer o que hoje destrói para o lado que constrói, agregando tudo isso para ser visto na sociedade mundial, como o país que coloca comida na mesa do mundo”, concluiu.
Segundo o mediador, os debates deixaram claro que o futuro do agro brasileiro depende da integração da produção com a preservação. “Os mercados consumidores não aceitarão produtos originados de locais que não integrem produção com preservação. Produzir e preservar é uma equação onde todo mundo ganha”, disse Luiz Tejon.
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