Tecnologia blockchain está sendo aplicada na cadeia produtiva da cana-de-açúcar
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Blockchain gera registro público, impedindo alterações e fraudes.
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Por meio de código QR em produtos da usina, será possível saber informações sobre todas as etapas da produção.
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Dados sobre origem do produto e dos insumos empregados, além de muitos outros, serão também acessíveis.
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Recurso poderá ser empregado na contabilização de créditos de descarbonização do programa nacional de biocombustíveis, o Renovabio.
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Tecnologia envolverá monitoramento por satélite.
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Imagens aéreas de canaviais permitirão diagnóstico rápido de doenças e pragas.
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Sistema-piloto será testado pela cooperativa Coplacana.
A tecnologia de blockchain, usada largamente para registro de transações financeiras, está sendo aplicada em um projeto de pesquisa inovador, conduzido pela Embrapa em parceria com o setor que atua na cadeia produtiva da cana-de-açúcar. A ideia é gerar uma ferramenta que armazene, registre, organize e rastreie os processos e produtos agroindustriais dessa cadeia, garantindo maior confiabilidade e segurança das informações fornecidas ao consumidor sobre a origem das matérias-primas e insumos.
Por meio de cooperação técnica com a Cooperativa dos Plantadores de Cana do Estado de São Paulo (Coplacana), a Safe Trace e a Usina Granelli, a Embrapa iniciou pesquisas para a geração de ativos e soluções tecnológicas baseados em inteligência artificial, rastreabilidade e sensoriamento remoto. Os trabalhos em campo, liderados pela Embrapa Informática Agropecuária (SP), tiveram início este ano. Dois experimentos são conduzidos em conjunto com produtores de Piracicaba e Tambaú; outro é realizado em Charqueada, todos municípios no interior do estado de São Paulo.
“Há uma demanda recorrente na agricultura pela rastreabilidade dos produtos e processos”, conta Stanley Oliveira, chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Informática Agropecuária. “Em geral, sistemas baseados em blockchain proporcionam uma forma segura e distribuída para fornecer informações no âmbito de uma cadeia produtiva agrícola, ou de quaisquer outros processos agroindustriais, permitindo rastrear informações como a origem do produto e de insumos, o uso de agrotóxicos na lavoura, entre outras, atendendo às exigências dos consumidores”, exemplifica.
O termo em inglês significa cadeia de blocos, ou seja, a tecnologia permite que as informações sejam registradas em uma sequência de blocos, funcionando como um registro público e impedindo alterações ou fraudes nos processos. “Entre as principais vantagens está a invariabilidade das informações para todos os elos, criando assim um caminho confiável de procedência que fortalece toda a cadeia produtiva”, explica o pesquisador da Embrapa Alexandre de Castro.
Com o desenvolvimento de um sistema de rastreabilidade usando blockchain, as embalagens dos produtos da usina parceira vão receber um selo “Tecnologia Embrapa” e um código QR. Assim, será possível disponibilizar todas as informações coletadas, desde a produção no campo até a chegada ao consumidor final, passando pela moagem da cana-de-açúcar, extração na usina, distribuição e comercialização desses produtos. As ações atendem ainda aos anseios da sociedade por produtos mais saudáveis, além da exigência do mercado internacional em saber como os alimentos são produzidos.
“A adoção de tecnologia blockchain pelos cooperados da Coplacana vai proporcionar um ganho efetivo de mercado, uma vez que os elos agrícola, industrial, certificador e distribuidor envolvidos na cadeia produtiva passarão a estabelecer uma relação de confiabilidade nos dados compartilhados”, afirma o pesquisador da Embrapa Fábio Cesar da Silva. “O consumidor também ganha mais transparência, elegendo produtos com uma rastreabilidade confiável, além de maior segurança alimentar e ambiental”, complementa.
O acordo com a cooperativa inclui a geração de processos agropecuários, softwares, modelos, banco de dados e metodologia técnico-científica. Por meio da parceria, ainda será criada uma tecnologia baseada em sensoriamento remoto para organizar, processar e disponibilizar em nuvem imagens de satélite proximais, suborbitais e orbitais, aplicadas a análises de lavouras da cana-de-açúcar, que vão contribuir para apoiar o planejamento e o controle operacional da cultura, tanto na fazenda como em talhões.
Outra novidade é que imagens aéreas de canaviais serão usadas em uma solução tecnológica para detecção de doenças das plantas e pragas daninhas, deficiências nutricionais, estresse hídrico e estimativas de produção de biomassa. O diagnóstico vai permitir aos produtores a adoção de medidas de controle com mais rapidez e eficiência.
“É um novo modelo de trabalho com esses cooperados, que traz segurança e promove maior integração, já que estão participando das pesquisas e do desenvolvimento das soluções e contando com a expertise da Embrapa”, destaca Francisco Severino, gerente técnico corporativo da Coplacana. Com 71 anos de atuação no mercado, a cooperativa firmou o acordo com a Embrapa no fim de 2019. “É o primeiro investimento da história da Coplacana em pesquisa, a primeira parceria dessa natureza”, comemora.
Rastreabilidade no RenovaBio
A tecnologia blockchain também apresenta inúmeras vantagens com relação à segurança criptográfica de dados. Além de custodiar informações de interesse de consumidores da cadeia produtiva sucroalcooleira, nos modelos empresa para empresa (B2B, na sigla em inglês) e empresa para consumidor (B2C), o sistema de rastreabilidade que será implantado na Usina Granelli vai armazenar dados primários de custódia da Política Nacional de Biocombustíveis, o programa RenovaBio.
A custódia das informações ao longo do fluxo de produção é considerada crucial para identificar gargalos econômicos e tecnológicos do setor, ajudando na assertividade das medidas corretivas e alavancagem na emissão de créditos de descarbonização (Cbios). Por isso, a equipe do projeto está trabalhando no desenho dos processos agroindustriais para rastrear os Cbios, além de fazer o levantamento de certificações de interesse estratégico do programa.
Uma solução tecnológica de blockchain que será desenvolvida pela Embrapa e pela Safe Trace poderá ser empregada em toda a cadeia produtiva, passando pela produção de matéria-prima, industrialização e comercialização dos Cbios. Essa tecnologia será capaz de registrar, armazenar, organizar, rastrear e disponibilizar informações coletadas ao longo da cadeia, desde a implantação no campo até as etapas finais de extração, tratamentos, fermentação e destilação para etanol nas unidades agroindustriais.
“A parceria realizada entre a Usina Granelli, a Embrapa e a SafeTrace será algo primordial e revolucionário no setor sucroenergético. Trabalhos de rastreamento sempre foram vistos na pecuária e no cultivo de grãos, contudo não havia histórico dessa tecnologia na cadeia produtiva da cana-de-açúcar, embora este seja o cultivo mais antigo de nosso País, remetendo à época do Brasil Colônia”, lembra Mariana Abdalla Granelli, diretora jurídica da Usina.
Para ela, as vantagens da cooperação serão sentidas tanto pelo agricultor e indústria, quanto pelo consumidor, uma vez que a qualidade do produto final será garantida pelo rastreamento feito pela SafeTrace e chancelada pela Embrapa, agregando valor na venda do açúcar mascavo. “O agricultor terá capacidade de avaliar as práticas de manejo de suas terras, possibilitando um controle mais assertivo dos tratos culturais e rendimentos de sua plantação. Já para a agroindústria, essa nova tecnologia permitirá maior comando e gerência sobre os processos industriais, tornando-os padronizados e mais precisos”, diz.
Confiança e transparência em todo o processo
Blockchain é uma tecnologia de registro descentralizado, ou seja, um livro-razão distribuído que utiliza códigos de autenticação criptográfica como medida de segurança. Assim, são atribuídas assinaturas digitais às informações registradas, que garantem imutabilidade e transparência nas transações, substituindo processos manuais de verificação de autenticidade e criando um ambiente de confiança de dados compartilhados entre os participantes de cadeia.
O principal objetivo é trazer mais transparência e confiabilidade ao processo de compartilhamento de informações, beneficiando todos os interessados que atuam na cadeia. Sistemas de criptografia ainda permitem que os dados trafeguem na rede com mais rapidez e sejam acessados de forma absolutamente segura, garante Rodrigo Argüeso, presidente da Safe Trace. A empresa, em parceria com o CPQD, já emprega a tecnologia na produção de carne bovina, café, frutas, legumes e verduras.
Essa é uma tecnologia inovadora que está sendo trazida para um setor tradicional do agronegócio, cuja produção é geograficamente muito distribuída, do norte ao sul do País, de acordo com o presidente da Safe Trace. “Capturar essa informação e guardá-la de forma segura, para fácil recuperação daqueles que estão autorizados, é o nosso negócio; há um bom tempo estamos fazendo isso com blockchain”, afirma.
A Embrapa Meio Ambiente (SP) e a Embrapa Informática Agropecuária também estão desenvolvendo outras soluções tecnológicas digitais para aprimorar o processo de certificação do RenovaBio. Pelo potencial impacto que a tecnologia de blockchain pode provocar no setor, algumas empresas já formalizaram interesse em que as pesquisas sejam estendidas às cadeias de etanol de milho e biodiesel de soja, por exemplo.
“É uma satisfação estarmos agora em uma cadeia tão importante como a da cana-de-açúcar, trabalhando em conjunto com a Embrapa. Esperamos que isso se estenda a outras cadeias produtivas. Em conjunto, temos muito a contribuir para a evolução e a sustentabilidade do agronegócio brasileiro”, ressalta Argüeso.
Tecnologias digitais transformam o campo
As tecnologias digitais estão transformando o cenário da agricultura brasileira. Inovações nas áreas de automação, robótica e inteligência artificial, aliadas a recursos de internet das coisas (IoT), computação em nuvem, infraestrutura computacional e conectividade no campo, podem ajudar a implementar soluções tecnológicas com potencial de provocar grande impacto nos sistemas produtivos, reduzindo custos, melhorando a eficiência, a qualidade e ainda aumentando a renda do produtor.
O VII Plano Diretor da Embrapa (PDE) 2020-2030 aponta a oportunidade de nova transformação agrícola baseada em pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I). Segundo o documento, os avanços na fronteira do conhecimento em intensificação sustentável – especialmente os sistemas integrados de lavoura, pecuária e floresta (ILPF), as tecnologias digitais, como drones, sensores, IoT, inteligência artificial e blockchain, a bioeconomia, a gestão de risco agrícola e a convergência tecnológica representam o alicerce da nova agricultura brasileira.
Essa agricultura “deverá gerar mais valor para as cadeias produtivas e para a sociedade, ao mesmo tempo em que assegurará a oferta de mais e melhores produtos, garantindo, assim, a segurança alimentar da sociedade brasileira e provendo a preservação da base dos recursos naturais. Além disso, contribuirá, cada vez mais, para o desenvolvimento regional e o bem-estar das populações rural e urbana”, enfatiza o PDE.
As inovações tecnológicas também estão entre as tendências identificadas pelo estudo “Segurança alimentar pós-covid-19: megatendências dos sistemas alimentares globais”, elaborado pela Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas (Sire) da Embrapa. Os reflexos da adoção da agricultura digital e de precisão nos próximos 20-30 anos serão, principalmente, aumentos de produtividade, economias de escala e readequação do uso da mão de obra agrícola.
Foto: Magda Cruciol
Nadir Rodrigues (MTb 26.948/SP)
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