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Projeto ABC Cerrado recupera de 93 mil hectares de áreas degradadas – 08/11/2019

Uma área equivalente a 110 mil campos de futebol foi recuperada e tornou-se produtiva com a adoção de algumas tecnologias voltadas para agricultura de baixo carbono desenvolvidas pela Embrapa e parceiros. Esse foi um dos resultados do Projeto ABC Cerrado apresentado nessa quarta-feira, no auditório da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em Brasília.

As tecnologias aliadas à capacitação dos produtores rurais e à assistência técnica e gerencial foi a combinação que levou ao sucesso da iniciativa. A ministra da Agricultura Tereza Cristina, presente no evento, enfatizou: “Esse projeto é importante e emblemático. É um exemplo para mostrarmos ao mundo, que está preocupado com o nosso meio ambiente”. A partir das ações implementadas, mais de 190 mil hectares foram incorporados às áreas de preservação permanente e às reservas legais, também como entrega do projeto.

Os números do estudo inédito que avaliou os impactos da adoção das tecnologias pelos produtores rurais superaram todas expectativas, como avaliou o presidente da CNA, João Martins. Em três anos de execução, além das áreas, principalmente de pastagens, recuperadas, a iniciativa capacitou 7,8 mil produtores rurais, prestou mais de 214 mil horas de assistência técnica a partir de um diagnóstico individualizado e beneficiou mais de 18 mil pessoas, entre familiares, consultores, estudantes e outros públicos envolvidos, 54% a mais que a meta inicial. 

Com a proposta de unir capacitação e assistência técnica e gerencial, o resultado foi que 11 vezes mais produtores adotaram as tecnologias recomendadas, se comparados aos produtores que não foram envolvidos na iniciativa.

Outro dado que chama a atenção é o número de pequenos agricultores integrantes do projeto. Das 2 mil propriedades rurais atendidas, 86% têm menos de 500 hectares. “Isso demonstra que tecnologia de baixo carbono também é para pequenos produtores”, afirmou o diretor-geral do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), Daniel Carrara.

“O que mostramos aqui hoje é como a tecnologia agropecuária pode apoiar o desenvolvimento do agronegócio brasileiro”, reforçou o presidente da Embrapa, Celso Moretti. Ele completa dizendo que as quatro tecnologias que integraram o projeto demonstraram que é possível alcançar maior sustentabilidade na produção agropecuária do País. “O Brasil não precisa cortar mais nenhuma árvore, não precisa tocar na Amazônia ou na Mata Atlântica. Só com a recuperação de pastagens degradadas, em 2030, o Brasil vai ser o maior produtor de alimentos, proteínas e fibras”, garantiu.

Produtores rurais são peças-chaves do processo
Em três anos, a pastagem que estava muito empobrecida, agora, com braquiária, consegue resistir aos períodos de estiagem, conta Rodrigo Barros, o produtor de Brejolândia (Bahia), que também trocou a genética do gado. Agora, com um pequeno sistema de irrigação rotacionada, o pasto de boa qualidade nos cinco hectares da família garantiu que sua produção de gado quintuplicasse. “O projeto ABC Cerrado veio para abrir nossos olhos e eu passei a enxergar de maneira mais ampla como fazer qualquer atividade na nossa propriedade”.

Para cada um real investido pelo projeto, os produtores colocaram 7 reais de volta. “Isso demonstra que eles acreditaram no projeto, que seria possível melhorar sua produção, sua renda, com soluções para suas propriedades”, conta o presidente da CNA. Alguns produtores, que produziam, de 45 a 50 litros por dia, passaram a produzir 300 litros, um excelente resultado alcançado com a ajuda do ABC Cerrado, afirma João Martins.

De 100 animais, o Antônio Luiz Andrade, que tem uma propriedade em Codó, no Maranhão, passou a criar 300 na mesma área, após colocar em prática as recomendações para melhorar suas pastagens. “A tecnologia é de grande importância, principalmente para o pequeno produtor, que não tem condição de ter um agrônomo, um técnico para acompanhá-lo. O pequeno produtor, a maioria, não tem o conhecimento técnico”. O ABC Cerrado levou muito conhecimento para o pequeno produtor. “Eu nunca tinha feito a análise do solo. Eu fiz a análise, fiz adubação, como recomendado, pela primeira vez”. Depois ele plantou os capins mombaça e braquiária, além de milho, para fazer silagem e complementar a dieta do gado durante o período de engorda. 

Com a implantação de uma ou mais dentre as quatro tecnologias do projeto – recuperação de pastagens degradadas, integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), sistema Plantio Direto e florestas plantadas, os produtores da Bahia, Mato Grosso do Sul, Maranhão, Minas Gerais, Piauí, Tocantins e do Distrito Federal ganharam em produtividade e aumentaram a sustentabilidade de seus negócios.

À Embrapa coube a coordenação da vertente técnica do ABC Cerrado. “Participamos desde o início, desde a concepção do projeto. Nós revisamos todas as tecnologias que foram incorporados ao projeto, fizemos o treinamento dos consultores, os consultores capacitaram os técnicos, que capacitaram os produtores rurais – essa foi a sequência da metodologia do programa”, explicou Claudio Karia, chefe-geral da Embrapa Cerrados. 

Para Karia, outro ganho do projeto foi mostrar que o problema não está na geração da tecnologia e sim em como fazer essa tecnologia, esse conhecimento, chegar ao produtor. “Nesse caso, foi importante achar interlocutores que tivessem capilaridade e condições de chegar ao produtor, como o Senar”, explica.

Outro diferencial do ABC Cerrado foi a oferta de uma assistência técnica individualizada. “Para cada propriedade foi transferida a tecnologia adequada. Hoje temos que trabalhar com eficiência, com indicadores, sabendo que o produtor vai investir um real e no futuro vai tirar dez, com a tecnologia adequada à característica do produtor”, explica Daniel Carrara. Ele contou que a adoção de uma metodologia para mensurar os resultados do projeto veio pela parceria com a Embrapa.

A ministra da Agricultura também acredita no arranjo do ABC Cerrado. “Esse projeto vai continuar. Os produtores capacitados vão seguir usando essas tecnologias e os vizinhos vão adotar também. Em breve, com os acordos que estamos fazendo com vários países, vamos ter que aumentar nossa produção. Aí está a resposta de como vamos fazer isso”, sinalizou Tereza Cristina.
 

Foto: Juliana Miura
Juliana Miura (4563/DF)
Embrapa Cerrados

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