Sistema silvipastoril possibilita produção de leite, água de coco e lenha ao lado do mercado consumidor no Rio de Janeiro
A poucos metros da praia, cercado por condomínios residenciais no bairro do Recreio dos Bandeirantes, o pequeno sítio da família de Filippo Leta destoa completamente da paisagem urbana do Rio de Janeiro. Se não bastasse o fato inusitado de se manter mesmo com a valorização imobiliária da região, os 13 hectares são trabalhados de uma maneira intensificada e agroecológica, tendo a integração lavoura-pecuária-floresta como o grande alicerce.
Adquirido pelo avô quando migrou da Itália para o Brasil, o sítio já foi usado para a produção de hortaliças, de suínos, cabras, vacas, coco, entre outras culturas, sempre com a ideia do aproveitamento dos resíduos, do espaço e da integração entre as atividades.
Com a perda do avô, o jovem Filippo assumiu a condução do sítio que frequentava desde criança. O primeiro passo foi aprender sobre o fornecimento de alimento para o gado num sistema de produção baseado no pasto. Foi buscar no Zimbábue, na África, os ensinamentos que precisava. Aprendeu a metodologia de pastejo rotacionado preconizada pelo Instituto Savory, criado pelo ecologista Allan Savory.
“Usamos uma planilha e fazemos um planejamento do pastoreio dos animais, do movimento dos animais na terra. Um plano para época da seca e outro para a época das águas, respeitando sempre o tempo de descanso das plantas e a velocidade de crescimento delas, de acordo com a época do ano”, explica Filippo Leta.
Dessa forma, as 17 vacas Jersey que possui pastejam ao longo do ano por 25 piquetes, em uma área total de 8,3 hectares. Com base em mensuração diária da produção de matéria seca, o pastejo é feito em faixas delimitadas com cerca elétrica móvel dentro de cada piquete. Com isso, os animais encontram sempre pastagem abundante, fazem um super pastejo e são levados para outra área. Dessa forma, só retornam à área pastejada semanas depois, dando tempo suficiente para recuperação da forrageira.
Filippo explica que a estratégia é uma mímica do que ocorre na natureza com os grandes rebanhos de herbívoros das savanas e pradarias.
Entre as plantas forrageiras utilizadas no sítio estão a braquiária do brejo, o braquiarão e tifton. Além da pastagem, as vacas recebem 4 kg de concentrado à base de cevada por dia.
Em muitos dos piquetes os coqueiros plantados pelo avô garantem conforto térmico aos animais. Nos demais o próprio Filippo vem plantando linhas simples de eucalipto, acácia mangium, ingá, guapuruvu e, em alguns deles, novos coqueiros. Além de gerar sombra e refresco para o gado no calor praiano do Rio de Janeiro, as árvores fornecem coco, cuja água é envasada no próprio sítio e lenha, vendida em sacos pequenos no mercado local.
Porcos e cabras
O sítio tem como uma de suas principais atividades a produção de leite de cabra. Atualmente o rebanho conta com 70 cabras da raça Saanen. Os animais ficam em um capril também sombreado pelos coqueiros.
Com metade das cabras em lactação, a produção média diária é de 75 litros. Esta produção é transformada em queijo em um pequeno laticínio montado no sítio.
Outra fonte de renda é a venda de leitões caipiras. Mas os porcos não se limitam ao chiqueiro. As matrizes são usadas na ILPF como instrumentos para preparo de terra em piquetes que precisam ser recuperados.
“O porco entra como uma ferramenta de recuperação de pasto. Quando queremos replantar a forrageira, entramos com o porco funcionando realmente como um arado. Fazemos piquetes móveis com cerca elétrica, mantendo-os bem adensados. Eles vão fuçando, arando a terra, preparando, para depois entrarmos com a grade e plantarmos o pasto”, explica que já se prepara para também usar as galinhas poedeiras nesse processo.
Diversificação da produção
Buscando obter o melhor resultado em sua área, o produtor tem como uma de suas estratégias a diversificação da produção. Além disso, tem procurado agregar valor quando possível e trabalhar da melhor forma para aproveitar todos os recursos.
Uma das iniciativas foi criar a marca Ah Pashto para a água de coco e derivados de leite. A água de coco é envasada em uma agroindústria montada no sítio e vendida em uma rede de supermercados do Rio de Janeiro. Para aproveitar melhor a capacidade instalada, hoje além da produção própria, a fábrica compra coco de outros fornecedores.
O leite de vaca, após ser pasteurizado, é envasado no laticínio e vendido para consumo interno dos funcionários de uma rede de supermercados. Já o queijo feito com leite de cabra é vendido no comércio local, assim como os ovos, que são vendidos a granel.
A lenha de eucalipto que também é vendida pela família vem de outra propriedade no estado do Rio. Mas em breve também poderá ser obtida das árvores da ILPF.
Produção agroecológica e carbono neutro
Desde que assumiu a condução e operacionalização do sítio, Filippo deixou de utilizar qualquer tipo de agrotóxico na propriedade. De acordo com ele, o objetivo é o de encontrar soluções biológicas que tornem o sistema equilibrado e mais preparado para as adversidades.
“É claro que tivemos uma queda na produtividade logo nos primeiros anos, mas depois veio recuperando. Estamos tentando criar um sistema resiliente, com bastante matéria orgânica, para que as plantas sejam fortes o suficiente para poder conviver com essas pragas e sejam controladas biologicamente dentro do sistema”, afirma.
Dentre as estratégias para a maior resiliência do sistema, o aumento de matéria orgânica no solo é um dos pilares do trabalho. Além disso, a propriedade está ingressando no Projeto Pecuária Neutra, que visa mitigar as emissões de gases causadores de efeito estufa oriundos da fermentação entérica dos animais por meio da fixação de carbono pelas raízes das árvores usadas na ILPF.
Integração de pessoas
Atualmente o sítio conduzido por Filippo conta com 15 funcionários atuando tanto no campo quando nas agroindústrias. Todos eles jovens e cada um responsável por uma atividade no sistema produtivo.
“Precisa só de disposição e vontade. Eles estão dando conta do recado e estão mostrando que têm um trabalho digno e que a pecuária pode ser a solução. Não é só vilã. Faz parte de um sistema integrado de pessoas”, afirma o produtor.
Para ele o maior desafio em um sistema produtivo como o que tem adotado está nas pessoas.
“O maior desafio é mudar a cabeça, a consciência das pessoas de que esse é um sistema que pode funcionar e que a gente tem que ter a coragem de fazer. E também a capacitação das pessoas, para que elas entendam e olhem mais para o solo para poder aplicar esse tipo de manejo. O maior desafio não é a técnica ou o projeto em si, é trazer as pessoas para dentro do projeto”, avalia.
Nesse sentido, o produtor espera cada vez poder envolver mais pessoas, de modo a possibilitar maior aprendizagem sobre os sistemas integrados. Para isso, planeja formas de receber um maior número de visitas à sua propriedade.
“Não queremos ser demonstração de nada. Queremos ser uma área de aprendizagem, proporcionando a troca de experiências. E também incluir os jovens e crianças para que valorizem a agricultura e pecuária”, afirma.
Reportagem e fotos:
Gabriel Faria (mtb 15.624 MG JP)
Embrapa Agrosilvipastoril
agrossilvipastoril.imprensa@embrapa.br
Telefone: 66 3211-4227
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