Árvore ajuda a complementar renda da pecuária na Zona da Mata Mineira
Quando assumiu junto à sua mãe a fazenda Triqueda, em Coronel Pacheco (MG), no início dos anos 2.000, o administrador Leonardo Resende encontrou um cenário típico da região: pastagens pouco produtivas, com baixo uso de tecnologia e gerando baixa receita por hectare. A topografia montanhosa era um complicador para o manejo.
Terceira geração na família a na atividade rural, Leonardo sentiu a necessidade de aumentar a renda com a fazenda de pecuária de corte. Buscou auxílio na Embrapa Gado de Leite, em Juiz de Fora (MG), que naquele momento iniciava trabalhos com sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF).
“Dividimos a fazenda em quatro etapas de implementação de silvipastoril, para não ter que descartar o gado todo, nem ter que colocar cerca elétrica. A gente reduziu o rebanho e veio fazendo ¼ da fazenda por ano. Retiramos o gado e demos um tempo para o pasto dar uma ‘revitalizada’”, explica Leonardo.
A fazenda Triqueda tem 380 ha, sendo 100 ha de sistema silvipastoril e 100 ha de silvicultura, com diferentes materiais de eucalipto. O restante da propriedade é de reserva legal e área de preservação permanente.
Componente arbóreo
Devido ao relevo íngreme, todo o plantio foi feito manualmente, em nível. Nas áreas de integração, a organização se deu em renques de linhas duplas (3m x 2m) ou de linhas simples (3m de espaçamento). A distância entre renques foi de 15 metros em todas as áreas.
Para a implantação do sistema, Leonardo contou com apoio de pesquisadores da Embrapa. A assistência técnica oferecida pela siderúrgica ArcelorMittal, com quem fez parceria na área de eucalipto puro, contribuiu para o manejo das árvores e entendimento do mercado de madeira. Além disso, o produtor sempre buscou informações em instituições de pesquisa e universidades, como a Universidade Federal de Viçosa, por exemplo.
Desde o início, as projeções de rentabilidade eram promissoras. Porém, a crise no setor siderúrgico em Minas Gerais, após a quebra dos bancos americanos em 2008, fez com que os preços da lenha e da madeira fina despencassem na região, situação que perdura até os dias de hoje. Com isso, não só a previsão de receitas caiu, como a condução do sistema teve de ser alterada.
De acordo com Leonardo, os primeiros desbastes da área de silvicultura foram feitos ainda em um bom momento da siderurgia e a venda da madeira foi suficiente para pagar todo o investimento naquela área. Assim, as árvores que ficaram serão lucro. Já no sistema silvipastoril, a venda da madeira do desbaste foi suficiente apenas para pagar os custos daquelas árvores que foram retiradas. Além de uso como lenha, a madeira foi vendida em toretes (15<30 cm de diâmetro) para produção de embalagens, como paletes e caixas.
“Nós chegamos a vender toras com 42 cm de diâmetro (objetivo inicial do projeto), porém como a parte mais fina da árvore (<30 cm de diâmetro) esta desvalorizada em Minas Gerais, tivemos que aumentar o objetivo para 50 cm de diâmetro. Com isso vamos precisar de mais 3 ou 4 anos para que o retorno financeiro projetado no plantio seja alcançado”, explica Leonardo.
O manejo das árvores por mais tempo do que o planejado, além de atrasar a receita, aumenta a competitividade entre as plantas.
“Indo para um diâmetro de 40 cm, já começo a notar que 3 m entre plantas é um pouco justo. Eu tenderia a mexer nesse espaço entre plantas para diâmetros superiores. Essa madeira que a gente chama de maior valor agregado”, relata o produtor, que também observa maior vantagem nos renques de linhas simples em relação à linha dupla.
Leonardo ressalta, entretanto, que a definição de espaçamento e de croqui depende do objetivo de uso da árvore e do plano de comercialização.
Mesmo com as adversidades no mercado de eucalipto, as projeções de receita da fazenda ainda são superiores à média da região e à média da pecuária brasileira. De acordo com Leonardo, pesquisa realizada em seu mestrado, mostrou que a estimativa de renda por hectare é de R$ 1.100 por ano, mais do que o triplo da média nacional, que é de R$ 350 anuais (CEPEA BR); se aproximando da rentabilidade do milho e da soja (estrelas da agricultura brasileira).
“O Sistema Silvipastoril destinado a produção de árvores para serraria é uma ótima solução para a pecuária em áreas montanhosas, como a minha região. Pois, além de ser mais sustentável, aumenta a rentabilidade (R$/ha/ano) através de um investimento de baixo risco sobre o capital investido”, afirma Leonardo Resende. [GRF1]
Pecuária de corte e benefícios ambientais
Além de gerar adição de renda, o sistema silvipastoril trouxe ganhos para a pecuária. As cerca de 100 a 120 cabeças da raça Brangus pastejam durante todo dia na sombra. No verão, isso ajuda a reduzir a temperatura. No inverno as árvores protegem do vento. Além disso, a menor evapotranspiração, mantém a umidade por mais tempo no solo, beneficiando as pastagens.
Os benefícios também são notados na melhor ciclagem de nutrientes, na dinâmica de água, preservação do solo e no aumento da diversidade biológica tanto na micro, quanto na macrofauna.
Esses temas foram alvo de estudos de Leonardo, que, apesar da formação de administrador, fez mestrado e doutorado em Conservação Ambiental e Desenvolvimento sustentável.
Um dos estudos levantou a pegada de carbono do sistema. Usando a metodologia de mensurar apenas o carbono fixado pelas raízes das árvores e comparando com a emissão de metano pelo gado, Leonardo afirma que 27 mil toneladas de carbono foram mitigadas na fazenda Triqueda ao longo de 14 anos.
Pecuária Neutra
O trabalho desenvolvido na Triqueda fez Leonardo Resende a se aproximar de outros produtores com iniciativas sustentáveis. Dali nasceu a selo Pecuária Neutra, que visa certificar fazendas conforme a pegada de carbono. De acordo com o produtor, a ideia inicial foi de ser um complemento à certificação RainForest que leva em conta aspectos sociais, ambientais e econômicos, mas não a questão do carbono.
A iniciativa hoje funciona como uma startup, oferecendo assistência técnica a propriedades que queriam se juntar ao grupo. Além do selo, o grupo trabalha com a pecuária regenerativa. Esta é uma metodologia de manejo de pastagens criada pelo ecologista Allan Savory, baseado em que muito dos impactos ambientais que se atribuem a pecuária a pasto estão mais relacionados a forma que o manejo é realizado do que a criação desses animais propriamente dita. A pecuária regenerativa parte da premissa que os herbívoros sempre existiram e que ocupam um importante papel no equilíbrio dos ecossistemas, que consiste em fazer a poda das pastagens aumentado a vitalidade de todo o sistema. Desde 2019 a fazenda Triqueda é um “Savory Hub”, um dos 30 centros de pesquisa e de transferência de conhecimento relacionados à pecuária regenerativa no mundo.
Todo o trabalho desenvolvido na fazenda fez com que a propriedade fosse listada em 2020 pela instituição internacional FoodTank – The think than for food entre as 28 propriedades de iniciativa mais sustentáveis do mundo.
Saiba mais sobre as tecnologias adotadas:
– Projeto Peuária Neutra e Regenerativa
Crédito das fotos: Leonardo Resende
Texto: Gabriel Faria (mtb 15.624/MG JP)
Embrapa Agrossilvipastoril
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Telefone: 66 3211-4227
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