Curso de capacitação termina na Fazenda Boa Aguada em Ribas do Rio Pardo (MS) onde a CCN é produzida
O selo Carne Carbono Neutro (CCN) é uma marca-conceito desenvolvida pela Embrapa com trabalhos iniciados em 2012. Uma das etapas do processo acaba de ser cumprida: a realização do I Curso de Capacitação para Certificadoras da Marca-Conceito CCN, responsáveis por atestar se o produto está dentro dos padrões exigidos pelo selo.
O evento reuniu um grupo considerável de participantes, entre representantes de certificadoras, técnicos, pesquisadores e profissionais ligados ao setor agropecuário. É o primeiro curso do gênero dentro da Embrapa sem precedentes e faz parte do processo de credenciamento das certificadoras junto ao Instituto CNA (ICNA).
Foram três dias de intensos trabalhos com discussões abrangendo produção da CCN que inclui cuidados com o bem-estar animal e ambiência na Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, boas práticas agropecuárias de baixa emissão de carbono, uso de árvores no sistema, requisitos do componente solo e animal, mercado de carnes especiais, mudanças no campo que estão ocorrendo, tendências em certificação, e, principalmente, o papel das certificadoras no processo de certificação da CCN.
O último dia do curso, na sexta, dia 8, foi mostrar aos participantes a prática da produção CCN. Desde 2015 a Embrapa mantém um acordo de cooperação com a empresa Mutum Agropecuária S.A – Grupo Mutum, desse acordo foi montada uma unidade de referência de produção e já no ano seguinte, 2016, aconteceu o primeiro abate experimental e foi nessa propriedade, Fazenda Boa Aguada, em Ribas do Rio Pardo (MS), que os participantes visitaram a área onde os bovinos são criados e tiveram a oportunidade de tirar dúvidas junto aos técnicos da fazenda e da Embrapa.
Segundo a pesquisadora Fabiana Villa Alves, coordenadora dos trabalhos, “o curso é a primeira etapa para credenciamento das certificadoras”, outras capacitações deverão ocorrer de acordo com a demanda. Na sua avaliação o evento foi positivo. “A qualidade dos palestrantes e dos participantes foi surpreendente pela forma de conhecimento e interesse demonstrado do inicio ao fim do evento”, disse.
O Selo CCN
Para obter o selo dessa carne diferenciada o produtor deverá seguir uma série de diretrizes entre elas a de que a criação deverá ser em sistemas com a introdução obrigatória de árvores. Isso porque o componente arbóreo faz o trabalho de neutralizar o metano entérico exalado pelos animais, um dos causadores pelo efeito estufa e que provoca o aquecimento global.
Os sistemas de criação podem ser o silvipastoril (pecuária-floresta, IPF) ou agrossilvipastoril (lavoura-pecuária-floresta, ILPF).
A pesquisa provou que fazendas serão neutras em carbono se a criação for feita dentro de um dos sistemas acima, por isso uma das exigências de produzir a CCN é criar o gado bovino nos sistemas que incluem árvores. Além disso, outros aspectos são exigidos como de rastreabilidade e registros da área de produção, a da alimentação cuja fonte principal deve ser a pastagem, do manejo do pasto e sanitário dos animais dentre muitas outras diretrizes que devem ser observadas.
Quanto ao mercado de aceitação da CCN a pesquisadora Fabiana diz que essa carne tem um mercado especial e que tem uma demanda premente. “O trabalho com a CCN começou em 2012 e hoje é uma realidade. O Brasil pela primeira vez não foi atrás de tecnologias de fora. Ele criou a tecnologia. O Brasil hoje é formador de opinião com técnicos de outros países buscando nossa tecnologia para seus programas de carne neutra”. Afirma. O protocolo já está feito e homologado, diz Fabiana que destaca: “A carne carbono neutro é um produto certificado, rastreado, diferenciado, de qualidade garantida não só na questão de carbono neutro, como também de bem estar animal”.
O pesquisador Roberto Giolo, também da Embrapa Gado de Corte, líder do projeto de ILPF defende o selo CCN. Ele diz que a carne Brasileira será beneficiada com o selo e atingirá mercados mais exigentes, tanto o interno como o externo podendo o Brasil aumentar as exportações. Ele acredita que o selo será um facilitador para as metas nacionais previstas no Plano de Agricultura de Baixo Carbono que consistem em uma das ações propostas pelo Plano ABC.
O Programa CCN que é uma realidade foi elogiado durante o evento por representantes das certificadoras, como por Fabian Perez Gonçalves da empresa Suíça de serviços de certificação SGS, que atua há 80 anos no Brasil com sede em Barueri/SP. O gerente gostou do curso que classificou como algo inovador e com grande potencial de crescimento.
Sergio Pimenta, representante da certificadora SBC, de Botucatu (SP), disse que o curso é necessário e oportuno para operar o protocolo e harmonizar a interpretação da norma. “Fiquei surpreso com a base tecnológica e científica que embasa o protocolo. É bem ampla, nunca vi algo tão detalhado. São muitos conceitos, e o selo vai incentivar produtores a adotarem as tecnologias”. A certificadora SBC opera vários protocolos no Brasil e é a maior de animais de rastreamento para exportação.
A gestão do protocolo será do ICNA que fará a creditação das certificadoras, ou seja, quem vai fazer a conferência dos documentos e dos pré- requisitos.
O protocolo está finalizado, definido e homologado pelo Mapa e pela Embrapa. Está previsto para o final do mês de novembro, em São Paulo (SP) o lançamento da linha de produtos CCN E CBC pelo Frigorífico Marfrig, parceiro da Embrapa.
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Foto: Suelma Bonatto
Eliana Cezar (DRT 15.410/SP)
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