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Embrapa lança e-book sobre ILPF e mostra tecnologia sustentável brasileira em congresso mundial – 02/10/2019

A Embrapa realizou, dentro da programação de eventos paralelos do XXV Congresso Mundial da União Internacional das Organizações de Pesquisa Florestal (IUFRO), um encontro sobre Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF). O evento também marcou o lançamento oficial do e-book “ILPF – inovação com integração de lavoura, pecuária e floresta”, a maior obra sobre o tema voltada à agricultura tropical. O livro está disponível pra dowload gratuito.

Foram convidados para o debate Fabiano Balieiro, pesquisador da Embrapa Solos, representando a Rede ILPF; Fabiana Villa Alves, pesquisadora da Embrapa Gado de Corte; e Maria Eloá Rigolin, zootecnista, produtora rural e diretora técnica da Associação Brasileira de Criadores de Carne Carbono Neutro (ABCCN).

Para Fabiano Balieiro, é importante mostrar o quanto os cientistas e agricultores brasileiros inovam. Para divulgar o sistema integrado lavoura-pecuária-floresta, foi criada a Associação Rede ILPF, uma parceria público-privada que reúne a Embrapa e sete empresas privadas. As atividades envolvem fomento de conhecimento, estímulo à cooperação para beneficiar e promover a incorporação de novas áreas, treinamento e troca de experiências.

Segundo o pesquisador, estima-se que, hoje, há 15 milhões de hectares nesse sistema no Brasil. Até 2030, o desafio é chegar a 30 milhões.

“Para isso, precisamos ter conhecimento e informação de qualidade para levar a quem precisa. Devemos mostrar que é possível produzir e preservar e que, assim, teremos sistemas mais produtivos. Além disso, os sistemas ILPF são mais resilientes às mudanças climáticas”, destacou.

Um dos objetivos da Rede ILPF, de acordo com o pesquisador, é chegar à marca de um milhão de hectares de sistemas integrados monitorados e certificados, como forma de mostrar que os agricultores estão fazendo corretamente e, assim, apresentar os benefícios que isso traz.

“Mesmo sabendo a eficiência da ILPF, infelizmente, a participação das árvores ainda é muito insipiente. Mas, nesse sistema integrado, elas ajudam a fornecer alimentos, fibra alimentar e combustível; a fazer a cobertura do solo a longo prazo; a reduzir a erosão do solo; a promover a infiltração de água; a aumentar o conteúdo de matéria orgânica do solo, com sequestro de carbono; e a baixar as emissões de gases de efeito estufa por quilograma. Agora, o nosso desafio é aumentar a inserção das árvores”, afirmou.

Sobre isso, Fabiana Villa Alves complementou, dizendo que, apesar de todos os benefícios já conhecidos no Brasil e no mundo sobre os sistemas integrados, como bem-estar animal, redução do desflorestamento e mitigação dos gases de efeito estufa, ainda é muito difícil convencer o produtor a implantar a árvore no sistema. Por isso, dos 15 milhões de hectares existentes hoje em sistemas integrados de produção agropecuária, de 14 a 17% são sistemas que realmente tem árvore.

Outro desafio é o consumidor final, pois há a dificuldade de explicar, durante o curto período de tempo que ele leva para tomar a decisão de compra, tudo o que tem sido feito sobre o assunto. Para ajudar a diminuir essa lacuna, os pesquisadores tiveram a ideia de cristalizar todas as informações em um selo comercial, o que chamaram de marca-conceito.

“Por trás desse selo, tem toda uma base conceitual fundamentada em ciência. Essa é uma resposta aos anseios do consumidor. Começamos com a marca ‘Carne Carbono Neutro’ e, depois, surgiram outras duas: ‘Carne Baixo Carbono’ e ‘ Carbono Nativo’”, detalhou.

Dentro do processo de certificação das marcas-conceito, os avaliadores buscam evidências científicas, fazem a elaboração gráfica e seguem um documento orientador, com protocolo de certificação. A adesão é voluntária e tem grande apelo mercadológico.

Ainda segundo a pesquisadora, para fortalecer ainda mais os sistemas, além do selo foi criada também a Associação Brasileira de Criadores de Carne Carbono Neutro. Isso é uma inovação na avaliação de Fabiana, “sob a ótica de reunir produtores que pensam em um objetivo comum, tanto na questão da inovação, quanto da marca-conceito”, salientou.

Para a zootecnista Maria Eloá Rigolin, a associação veio para ajudar a formatar tudo o que existe de tecnologia disponível para os produtores. Ela reforça que as tendências globais de consumo estão mudando e que os consumidores estão cada vez mais preocupados com sustentabilidade, meio ambiente, bem-estar animal, etc. Por isso, a união desses produtores ajuda a entender os cuidados necessários a partir dessas mudanças. 

“Precisamos nos aproximar ainda mais, trazendo pesquisadores, técnicos e produtores que estão no campo. O Brasil é a bola da vez, pois tem tecnologia, espaço, área, pessoas do bem que podem realmente alimentar o mundo. Temos inegável vocação agrícola e temos condição de aumentar nossa área. Mas precisamos conseguir fazer tudo isso preservando a natureza. Com o sistema ILPF, vamos melhorando todos os 150 milhões de hectares de pastagem e precisamos de técnicos preparados para atuar nesse cenário”, afirmou.

Realizado pela primeira vez na América Latina, o IUFRO2019 foi promovido pela Embrapa, Serviço Florestal Brasileiro e IUFRO.

Publicação
A primeira versão do livro foi em 2011. Devido à procura, a segunda edição ampliada já foi lançada em 2012 e, em 2014, chegou a versão em inglês. Nas mais de 800 páginas, o leitor fará uma imersão nos conceitos dos sistemas de integração, com os recentes resultados de pesquisa, obtidos em experimentos a campo.

A primeira parte do livro levanta temas estratégicos sobre o agronegócio, a contribuição para a neutralização de carbono, a intensificação e o papel dos sistemas integrados. A segunda engloba os diversos componentes do sistema e seus impactos na melhoria do processo produtivo. “É uma abordagem prática, que vai de instruções de como estabelecer árvores a sugestão de métodos para realizar a análise financeira e planejamento de fluxo de caixa”, observa o editor Davi Bungenstab. 

Já a terceira parte apresenta os sistemas nos principais Biomas brasileiros, com casos de sucesso e participação de produtores rurais inovadores, de todas as escalas de produção. Por fim, o último bloco traz o potencial desses modelos na África, na Europa e América do Sul.

Entre produção, edição e finalização, foram doze meses de dedicação, que envolveram as equipes da Embrapa Gado de Corte (Campo Grande-MS), Acre (Rio Branco-AC) e Amazônia Oriental (Belém-PA). 

Balbino lembra que para ampliar a adoção dessas tecnologias as parcerias público-privada e público-pública, como universidades e órgãos estaduais de pesquisa, são fundamentais. A publicação, em si, traz isso como pode ser utilizada em capacitações. Ela agregou especialistas de entidades como Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais, Universidade Federal da Grande Dourados (MS), Universidade Estadual de Goiás, Universidade Federal de Viçosa, Universidade de Boston (EUA), Universidade de Hohenheim (Alemanha), Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR), Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Humboldt-Universität zu Berlin (Alemanha), Universidade de Extremadura (Espanha), Integrated Crop-Livestock Systems Network of the Global Research Alliance, Faculdade de Ciências Agronômicas (Unesp-SP), dentre outras. 

“Trabalhar a adoção passa por fazer a tecnologia conhecida e vale ressaltar que esta não é a versão final do livro, ainda temos resultados a trazer nos próximos anos”, assinala o engenheiro agrônomo.

Destaques
Ao trazer para as páginas do E-book os modelos de outros países, os autores querem abrir o setor produtivo e a pesquisa às oportunidades existentes. Na Península Ibérica, por exemplo, as alterações climáticas afetarão tanto os sistemas florestais como agrícolas é o que afirma a pesquisadora do Instituto Politécnico de Bragança (Portugal), Marina Castro. Sendo assim, a implementação dos sistemas de integração, conhecido há mais de 20 anos na região, “otimizará o uso de recursos, tornando-se uma ferramenta eficiente e inovadora devido ao conjunto de respostas associadas à sustentabilidade que permite”.

A zootecnista comenta que os países mediterrâneos encaram os incêndios florestais com certa frequência, por razões naturais, como presença de vegetação inflamável; socioeconômicas, como o êxodo rural; e as mudanças climáticas, propriamente ditas. Os modelos integrados tendem a reduzir a combustão e para ela é preciso mostrar aos produtores florestais que o pastoreio de seus bosques é positivo, pois reduz riscos e ameaças ao rendimento da atividade. Entretanto, de acordo com Rosa Mosquera, professora da Universidade de Santiago de Compostela e ex-presidente da Federação Europeia de Sistemas Agroflorestais, a adoção não é fácil. Pesquisa da AFINET (Agroforestry Innovation Network), com mais de 300 agricultores em toda Europa, revelou que os maiores obstáculos para a implantação, segundo eles, são recursos financeiros, políticas públicas, capacitação e suporte técnico. 

Já a Colômbia, com grande variedade de zonas climáticas, tem investido nos últimos anos nos sistemas silvipastoris para pecuária de corte e/ou leiteira, segundo o pesquisador Luis Alfonso Valderrama da Universidade Nacional da Colômbia. Apesar da carência de informações técnicas de longo prazo, o zootecnista acredita que os estudos recentes permitirão aumentar e melhorar o conhecimento sobre as interações entre os componentes arbóreo-pastagem-solo-animal. 

Outro destaque na obra é em relação à dinâmica da água. Avaliações nos campos experimentais da Embrapa em Campo Grande (MS) tiveram como objetivo analisar a dinâmica espacial e temporal da água no solo de um sistema de ILPF de 7-8 anos. O sistema estudado mostrou sazonalidade distinta induzida pelas estações seca e chuvosa e a equipe da Universidade de Hohenheim (Alemanha) frisa que o trabalho mostrou a complexidade da atividade, o que exigirá análises profundas para se obter um cenário dessa dinâmica e preencher lacunas ainda existentes. 

Por último, a obra mostra a ascensão de marcas-conceito, como Carne Carbono Neutro (CCN), que futuramente se tornará Plataforma de Pecuária de Baixo Carbono. Os protocolos de certificação brasileiros, ativos desses conceitos, se tornarão marca registrada do produto nacional. 

Lançamento
O e-book “ILPF – inovação com integração de lavoura, pecuária e floresta” será lançado durante o Congresso Mundial da IUFRO (International Union of Forest Research Organizations) no dia 1º de outubro, no Side Events ILPF, no Small Theater. O Congresso acontece em Curitiba (PR) até o dia 5 e é coordenado pelo Serviço Florestal Brasileiro (SFB) e Embrapa. 

 

Foto: Renata Silva
 
Maureen Bertol (Assessoria de imprensa do Congresso da IUFRO)
Embrapa Florestas

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Mais informações sobre o tema
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