Integração de culturas transformou área improdutiva em fonte de renda para agricultores
Com 140 hectares de pastagens, a propriedade do casal Francineide da Paiva Silva e Arildo de Souza Monteiro, no projeto de assentamento Moreno Maia, em Rio Branco (AC), tinha uma área que estava prestes a ser abandonada.
“Essa era a única parte que deu problema, o solo era muito seco. Tudo que a gente plantava aqui não dava certo e estávamos pensando até em isolar o local quando propuseram instalar esse sistema de Integração Lavoura-Pecuária- Floresta (ILPF). Deu tão certo que depois da colheita do milho eu resolvi voltar a criar galinhas, porque tinha alimento em abundância para essa criação que eu gosto tanto”, conta Francineide, mais conhecida como dona Boneca.
A história começou quando o casal participou de um curso sobre ILPF na Embrapa e percebeu que poderia reformar aquela parcela da pastagem. Depois disso, eles cederam dois hectares para uma unidade de demonstrativa, instalada em novembro de 2013, pela equipe da Embrapa Acre. Em quatro anos, a família produziu, nas entrelinhas das árvores, milho, feijão, mandioca, melancia, abóbora e em 2017 instalou um cultivo de maracujá.
A produtividade surpreendeu a todos: o milho obteve uma média de 4 toneladas por hectare, já o feijão chegou a produzir aproximadamente 1000 quilos por hectare, enquanto a média do Acre é de 550 quilos por hectare. A mandioca ficou em torno de 28 toneladas por hectare.
“Foi uma produção excelente para a região, com culturas típicas da agricultura familiar, em que só o preparo do solo foi mecanizado”, conta o pesquisador da Embrapa Acre, Tadário Kamel, que coordenou a ação.
“No primeiro ano quase que não conseguimos colher todo o milho, porque era colheita manual e produziu demais. No segundo ano nós tivemos que contratar pessoal para ajudar”, afirma dona Boneca.
Passo a passo
Para instalação do sistema ILPF, o primeiro passo foi verificar se a área tinha aptidão agrícola, com relevo plano, característica importante para o cultivo de grãos na região.
“Depois vieram as etapas típicas de um projeto agrícola. Fizemos a coleta de amostras de solo, as análises para cálculo de calagem a adubação e partir daí o preparo do solo. O plantio do milho foi realizado junto com as árvores desde o primeiro ano. Na sequência, vieram os tratos culturais para as árvores: poda, adubação e controle de formigas e o manejo da lavoura”, comenta Kamel.
Segundo Kamel, o plantio das árvores concomitante à cultura agrícola tem o objetivo de aumentar a taxa de sobrevivência das árvores.
“O efeito residual da adubação do cultivo agrícola melhora o desempenho do crescimento das árvores, tanto em altura quanto em diâmetro. Os espaçamentos mais utilizados são de 18 a 30 metros na entrelinha das árvores e na linha de 3 a 5 metros entre plantas. Nessa Unidade Demonstrativa, foi utilizado o espaçamento de 20 metros entre as árvores, com linhas simples, recomendadas para arborização de pastagens e para que se tenha uma maior distribuição da sombra”.
Árvores Nativas
Além do tradicional eucalipto, o sistema adotado na área da dona Boneca conta com duas espécies florestais nativas da região amazônica: o bordão-de-velho (Samanea tubulosa) e o mulateiro (Calicophyllum spruceanum). A escolha dessas duas espécies se baseou em resultados de pesquisas anteriores, realizadas em sistemas silvipastoris, que combinaram árvores, pastagens e gado na região de Rio Branco (AC).
O bordão-de-velho é uma leguminosa, de ocorrência espontânea, com alta capacidade de fixar nitrogênio, característica que ajuda a melhorar a fertilidade do solo e o valor nutritivo da pastagem. Segundo Kamel, nas áreas a pleno sol, o teor de proteína bruta na forragem foi de 8,5%, enquanto à sombra da copa do bordão-de-velho esse índice subiu para 11,45%. Já o crescimento da pastagem sob a copa da árvore aumentou em 25% em relação ao pasto a pleno sol.
A escolha do mulateiro está mais relacionada aos benefícios proporcionados pelas características da árvore e pelo valor comercial da madeira. Essa espécie nativa de grande porte e crescimento rápido possui copa de formato oval e densidade rala, permitindo ao mesmo tempo luz e sombreamento moderados, condições que influenciam positivamente a qualidade da forragem.
Resultados
“Tinha muita gente dizendo que não iria dar certo, que seria melhor nem cultivar nada em uma área como essa. Mas tem dado lucros e ainda têm as árvores lindas que estão crescendo. A gente já viu muitos cultivos bonitos aqui dentro e eu nem imaginaria que conseguiria reformar a pastagem tão rápido. Cada dia eu aprendo mais e quero ver de novo o capim crescer para eu colocar minhas vacas de leite aqui nessa área”, conta dona Boneca.
Para o pesquisador Tadário Kamel, o empreendedorismo do Arildo e da dona Boneca chamou a atenção.
“O aspecto que mais me deixou satisfeito, além do caráter técnico, foi a capacidade do casal de empreender. Eles acreditaram na tecnologia ILPF e incorporaram os conceitos dos sistemas integrados. Os produtores rurais tem gerado renda, usando a própria mão-de-obra na manutenção de culturas típicas da agricultura familiar, importantes na região norte”, comemora.
Caso de sucesso: uso de ILPF na Agricultura Familiar
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