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Fazenda São Paulo | Brasnorte – MT Fevereiro/2018

Fazenda em Mato Grosso utiliza melhor os recursos e garante diversificação nas fontes de renda

A necessidade de melhorar o manejo do solo, reduzir problemas com nematoides, fazer a rotação de culturas e evitar o desperdício de resíduos do armazém abriram os olhos do agricultor Vitório Herklotz para mudar o sistema produtivo na Fazenda São Paulo, localizada no município de Brasnorte, região oeste de Mato Grosso. A partir daí, passou a trabalhar com a integração lavoura-pecuária (ILP) e pecuária-floresta (IPF), mudando a perspectiva da atividade e diversificando as fontes de renda.

Na fazenda com cerca de 1.500 hectares de área produtiva, pelo menos 400 ha são usados constantemente com a ILP, outros 50 ha fazem parte de uma experiência com IPF. Nas áreas de lavoura, que compõem a maior parte do restante da propriedade, o milho plantado em segunda safra, após a soja, sempre vai consorciado com a braquiária Piatã, de modo a formar palhada para o plantio direto. Em caso de necessidade, essa palhada é logo convertida em pasto com uso de cercas elétricas. A única exceção são as lavouras de milho pipoca, que, pelas características da planta, não são consorciadas com o capim.

“A integração lavoura-pecuária surgiu pela necessidade da própria lavoura. Pela necessidade de diversificação e da sustentabilidade que a gente espera na agricultura. Por meio da pecuária me parece que o processo fica mais sustentável”, explica Vitório Herklotz.

Com a pecuária, a fazenda aproveita os resíduos do armazém de soja e da colheita do milho. A rotação com a pastagem reduz a incidência de nematoides como os de cisto e de galha e aumenta a quantidade de matéria orgânica. Outro benefício é a melhoria da atividade microbiana, elevando a fertilidade do solo e possibilitando o controle natural de pragas e doenças.

Vitório exemplifica o enriquecimento da microbiota do solo com um talhão que há três anos está com pastagem.

“Já está fechando o terceiro ano sem nenhum “cida”. Nem herbicida, nem fungicida, nem inseticida. Então nós damos um tempo para esse solo. Agora entrou a fertilização. Toda a matéria orgânica está sendo reciclada ali pela pecuária, o gado vai comendo, via urinando, vai defecando ali, vai ajeitando. Os micro-organismos têm bastante palha, isso sim é uma garantia de quando eu voltar a plantar soja vou ter resultado”, exemplifica.

A certeza do resultado vem da produtividade obtida com a soja após a pecuária. De acordo com o proprietário, as áreas em ILP chegam a produzir de 10 a 15 sacas a mais por hectare do que aquelas sem a integração. Para a pecuária, os ganhos também são vistos em maior taxa de lotação, maior taxa de prenhez nas vacas e ganho de peso dos animais.

De acordo com Vitório, a fazenda não trabalha com um período fixo de rotação entre a lavoura e a pecuária. A decisão é feita anualmente, de maneira estratégica, de acordo com as características do mercado. Um talhão de capim, por exemplo, que deveria ter voltado à agricultura há dois anos acabou sendo adubado novamente e continuou com a pecuária, que naquele momento tinha resultados mais interessantes do que a soja.

O produtor ressalta que na Fazenda São Paulo não se espera o pasto degradar para retornar à agricultura.

“A lavoura tem que voltar antes do pasto degradar. Você tem que ter palha sobrando lá no pasto para você ter o nível de matéria orgânica maior do que quando entrou a pastagem e não menor. O adubo que eu estou jogando no pasto hoje eu, no mínimo, estou produzindo comida. Na pior das hipóteses, vai sobrar alguma coisa para a lavoura lá para frente”, afirma Vitório Herklotz.

Atualmente a pecuária da fazenda São Paulo é feita no ciclo completo, com foco na cria com a inseminação artificial de angus em vacas nelore. Nas áreas de ILP, a taxa de lotação no período chuvoso chega a 7 u.a. por hectare e varia de 2 a 4 u.a. no período chuvoso. Os animais de corte ficam num semiconfinamento com suplementação de 1 a 1,5% do peso vivo.

 

 Mudança na perspectiva

A adoção da integração lavoura-pecuária trouxe nova perspectiva para o negócio da fazenda São Paulo. Além dos benefícios produtivos, a maior segurança financeira foi um ponto importante para o produtor.

“Financeiramente o que está mudando hoje? Nós estamos separando as cestas. Se aquela derrubar, aí não vai quebrar todos os ovos. Você tem uma lavoura hoje a ser colhida que padece de risco por causa da chuva. Eu nunca vi gado apodrecer na chuva ainda! Outra coisa, o que será do amanhã? É a pecuária ou é a agricultura? Eu acho que são os dois juntos. Acho que os dois juntos se somam, eles se potencializam”, afirma o produtor.

Vitório ainda destaca que a ILP é hoje a melhor alternativa para quem tem áreas arenosas.

“A gente já viu pelo o que está acontecendo com alguns produtores que se você tem áreas arenosas e você não entra com a pecuária, você está fadado ao fracasso. Pode até surgir tecnologia para as áreas de solos mais frágeis, mas hoje a tecnologia que existe para você conviver com esses solos de areia tem que passar pela pecuária”, alerta.

Integração pecuária-floresta

A busca pela diversificação e por uma alternativa de renda futura também levou o sr. Vitório a apostar na inclusão de árvores no sistema produtivo. Procurou por pesquisadores da Embrapa Agrossilvipastoril, em Sinop (MT), e no fim de 2014 montou uma área de IPF em 50 ha da propriedade. O local é uma das Unidades de Referência Tecnológica e Econômica (URTE) acompanhadas pela Embrapa. É usado tanto para coleta de dados técnicos e econômicos, para a validação de tecnologia, quanto para transferência de conhecimentos por meio de cursos, dias de campo e visitas técnicas.

O espaço onde foi instalada a URTE era antes um plantio de acácia mangium em espaçamento 4×4 visando a produção de madeira para serraria. A experiência não saiu como planejado e as árvores acabaram sendo cortadas para uso como lenha no secador da fazenda.

Como a área estava com os tocos, o planejamento do sistema IPF foi feito segundo o alinhamento do plantio anterior, com os renques em distâncias múltiplas de quatro metros.

Para esse projeto foram usadas três clones de eucalipto (VM 01, I144 e H13) em linhas duplas ou simples, dois clones de teca (A1 e A3) em linhas duplas ou simples, e mogno (Khaya ivorensisKhaya anthoteca e Khaya senegalensis) em linha simples. Além das linhas de árvores plantadas em sentido leste-oeste, a área foi cercada por uma linha dupla de eucalipto como forma de proteção contra o forte vento que sopra no local.

O espaçamento entre renques varia de 8 a 20 metros, sendo que no menor espaçamento, usado apenas com o eucalipto, o objetivo é suprimir um renque a cada dois, para uso como biomassa, dobrando a distância entre os renques que ficarem, sendo esses destinados à serraria.

No primeiro ano, enquanto as árvores cresciam, a área não foi utilizada para a pecuária. No segundo ano, os tocos da acácia que estavam no entre-renques foram retirados e plantou-se o pasto com um consórcio de Mombaça com Piatã e Estililosantes Campo Grande.

De acordo com Vitório, a opção por não fazer agricultura enquanto as árvores cresciam foi em função de proteger a floresta.

“Com o uso muito intenso de herbicidas na agricultura para fazer plantio na palha, fica difícil fazer isso sem prejudicar a floresta”, explica se referindo à possibilidade de deriva do herbicida.

 Atualmente a área de IPF é pastejada por novilhas. Antes chegou-se a usar bezerros em engorda, porém a observação de certa predação nas árvores motivou a mudança no perfil do gado. A predação, inclusive, é uma grande preocupação do produtor, uma vez que pode prejudicar o crescimento da árvore, inviabilizar seu uso para serraria ou mesmo levar à morte.

“A maior dificuldade em algumas espécies é a predação da casca. Aí você tem que entender por que o gado está fazendo isso, ou selecionar as espécies que são menos suscetíveis. A teca vai indo muito bem. O eucalipto tem certa suscetibilidade e os mognos estão sendo os mais prejudicados. Mas a gente vê que a faixa etária do gado tem muito a ver com isso, a mineralização nem se fala, e o manejo do gado também”, observa o produtor.

Outro ponto que ele aponta é a necessidade de mão-de-obra para o manejo de poda, desrama e desbaste. A condução errada ou a falta do exercício de algumas dessas tarefas pode comprometer o resultado final do sistema produtivo.

Apesar das dificuldades e da complexidade do sistema, Vitório se mostra satisfeito com o sistema produtivo e confiante no resultados futuros. Para ele, a sustentabilidade que o sistema proporciona valem o esforço e o investimento.

“Com a pecuária e a floresta, você coloca o boi na sombra e coloca o boi para ajudar as árvores. Então essa associação, além de produtiva, ela me parece muito bela”, define o produtor.

 

Conheça mais sobre a integração na Fazenda São Paulo

Gabriel Faria
Jornalista (mtb 15.624 MG JP)
Embrapa Agrossilvipastoril
agrossilvipastoril.imprensa@embrapa.br

 

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