Um dos objetivos do sistema ILP é agregar diversas tecnologias, de manejo cultural, de práticas pecuárias e de conservação do solo e da água, para que a propriedade tenha maior estabilidade de produção.
Na região Central de Minas Gerais, a atividade agropecuária convive com dois problemas climáticos que são determinantes no rendimento das lavouras e da pecuária. Um deles é a estação seca no outono e inverno, quando ocorre falta de forragem para os animais. Outro é o veranico durante a estação chuvosa, com duração e período de ocorrência incertos.
A questão é agravada quando as pastagens estão degradadas, apresentando baixa disponibilidade de forragem de alimentos para os animais durante todo o ano. Uma das alternativas tecnológicas que pode ser utilizada para minimizar estes problemas, de forma econômica, é a estratégia Integração Lavoura-Pecuária (ILP).
O Sistema ILP combina atividades agrícolas e pecuárias em uma mesma área de forma sustentável. Um dos objetivos é agregar diversas tecnologias, de manejo cultural, de práticas pecuárias e de conservação do solo e da água, para que a propriedade tenha maior estabilidade de produção.
Com o objetivo de obtenção de coeficientes técnicos e para demonstrar o potencial da ILP na região, foi implantada na Embrapa Milho e Sorgo, na safra 2005/06, uma Unidade de Referência Tecnológica e de Pesquisa (URTP). Esta unidade incorpora lavouras anuais e a recria e terminação de bovinos de corte. Parte dos resultados obtidos foram apresentados no dia de campo sobre ILP, em 2 de outubro de 2019, na URTP.
O pesquisador Miguel Marques Gontijo Neto, da Embrapa Milho e Sorgo, considera que a implantação de uma lavoura anual, como o milho e o sorgo, cultivada de forma consorciada com os capins, favorece a obtenção de uma grande produção de grãos ou de forragem na propriedade, que podem ser ensilados e conservados para o período da seca.
“Esta recuperação acontece porque a utilização de uma cultura de ciclo curto, milho, sorgo ou mesmo a soja, pode pagar, total ou parcialmente, os custos de correção da fertilidade do solo em uma safra. Assim, no caso de lavouras de milho ou de sorgo, conseguimos produzir forragens, um alimento para o rebanho, para o período de entressafras, além de recuperar a pastagem degradada”, complementa.
O pesquisador ressalta que em um planejamento para implantação de um sistema ILP, após escolher as lavouras e os consórcios, as culturas precisam ser rotacionadas entre as glebas. “Então o primeiro passo é recuperar uma área com pastagem degradada com um ou dois anos de lavoura. Na sequência passa-se para outras áreas, rotacionando as lavouras entre as todas as áreas da fazenda. Esta estratégia permite a recuperação das pastagens de toda a propriedade”, diz.
Gontijo acrescenta que não existe um modelo ou um pacote tecnológico a ser adotado em todas as áreas/propriedades. O produtor rural vai adotar o sistema de acordo com seu interesse, capacidade de investimento e as condições locais de solo e clima. “De acordo com as características da propriedade é que será encontrada a melhor combinação de culturas mais adequadas e as áreas que serão cultivadas anualmente. A estratégia ILP não apresenta restrições quanto ao tamanho da área e nível tecnológico do produtor, sendo viável para pequenos, médios e grandes produtores”, afirma.
“As culturas mais utilizadas por pecuaristas para recuperação de pastagens tem sido o milho e o sorgo, em função, principalmente, da produção de forragem para alimentar seus animais na estação seca do ano. Entretanto, às vezes, em regiões com restrição hídrica mais severa, o milheto pode também ser uma alternativa interessante para a consorciação e produção de forragem em relação ao milho ou o sorgo”, orienta.
Sobressemeadura de capim na soja
Outra alternativa testada, neste ano, pelos pesquisadores, na URT de Integração Lavoura-Pecuária da Embrapa Milho e Sorgo, foi a sobressemeadura de capim na soja.
De acordo com o engenheiro agrônomo Samuel Campos Abreu, na região Central de Minas Gerais, eles têm trabalhado e obtido resultados satisfatórios quando utilizam a soja para recuperação da fertilidade do solo de regiões com restrição hídrica. “Isto porque a adequação de épocas de semeaduras da soja com ciclos de cultivares mais tardias está permitindo resistir (escapar) ao veranico tradicional do mês de janeiro”, explica.
“Assim, a soja consegue passar este período de veranico ainda no estádio vegetativo e, depois, quando as chuvas retornam em fevereiro ou março, a soja volta à sua capacidade de produção de vagens em boas produtividades. Já o milho, por sua vez, difere desta condição, pois, quando seu plantio coincide com o veranico do mês de janeiro, o enchimento de grãos fica comprometido e ocorre baixa produtividade. Por isso, a soja tem-se mostrado uma cultura bem interessante para a recuperação de pastagens e composição de sistemas ILP na região Central de Minas”, afirma.
“Uma questão relevante é que quando falamos de sorgo, de milho e de milheto estamos utilizando a consorciação destas lavouras com capim, no momento do plantio. Então é usado o plantio consorciado destas culturas anuais com capim. Já no tocante à soja, em algumas regiões, tem sido possível fazer a sobressemeadura do capim, em sulcos nas entrelinhas da soja, quando a cultura se encontra nos estádios vegetativos R5-R6, resultando na formação de uma pastagem na entressafra”, ressalta Abreu.
Sandra Brito (MG 06230 JP)
Embrapa Milho e Sorgo
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