O pecuarista Carlos de Negri chegou à região de Canarana, no Vale do Araguaia em Mato Grosso, em 1989 para se dedicar à produção de gado de corte. Com o tempo a atividade extensiva exauriu seus pastos. Para reformar, seu Bariri, como é mais conhecido, viu que o
custo era muito elevado e o retorno demorado. Como não tinha maquinário para agricultura e nem o conhecimento técnico necessário, encontrou a solução por meio do arrendamento para lavoura de soja.
Naquela época a soja não era tão valorizada e o combinado que fez com o arrendatário era de que ele forneceria o calcário no primeiro ano e que receberia uma saca por hectare. Nos anos seguintes o pagamento cresceria gradualmente até chegar aos cinco e depois oito sacos.
“A agricultura veio para ajudar na reforma de pasto, pois não tinha condições de reformar “de pulo”, porque tudo que você põe, ainda não é bom. É bom, mas é pouco! A soja dá nitrogênio, arruma a terra…”, analisa seu Bariri.
O resultado com a melhora das pastagens foi tão interessante, que a área arrendada cresceu, chegando a quase metade da área produtiva da fazenda. Atualmente são 530 hectares arrendados para lavoura e cerca de 700 hectares que permanecem com pastagem o ano todo.
A propriedade conta ainda com cerca de 440 ha de vegetação nativa preservada. O valor recebido também aumentou. Atualmente está em dez sacas por hectare.
Parte da área arrendada é exclusiva da lavoura, cultivando soja na safra e milho na safrinha.
Em outra parte, o pecuarista compra as sementes de braquiária ruziziensis, que são semeadas pelo arrendatário e o gado pasteja durante o período seco. Em outubro a área é devolvida para o cultivo da soja.
Mudança na pecuária
A integração da pecuária com a lavoura por meio do arrendamento possibilitou uma série de mudanças na propriedade. Com a renda obtida, foi possível investir mais em calcário e adubo para as demais áreas de pastagem. A disponibilidade de alimento possibilitou a melhoria genética do rebanho. Com o bom manejo, tratamento dos bezerros com ração desde a desmama e fornecimento de silagem de milho para as vacas no auge da seca, hoje a fazenda sustenta um rebanho maior, em menor área.
“Hoje, passados mais de dez anos, começamos a fazer os sistemas integrados, rotacionando as áreas. De dois a três anos fica o capim, depois vem a lavoura. Isso possibilitou para a gente manter o rebanho que já tínhamos e ceder metade da área agricultável na fazenda para lavoura. E a lavoura, na época da seca deixa para nós a palhada e a resteva e, onde não é possível fazer a segunda safra de milho, coloca-se a braquiária”, explica o gerente de produção da fazenda Fábio José Marsando.
Com oferta de alimento até mesmo na seca, a fazenda ampliou a estação de monta para todo o ano, sempre por meio de touros Nelore Ceip, que passam até 90 dias com as vacas. Novilhas de 14 a 15 meses, com 270 kg, já estão ficando prenhas. Atualmente a fazenda tem feito seis lotes de terminação por ano.
Caravana ILPF
A Fazenda Bariri, em Canarana, foi um dos destinos da Caravana ILPF na Etapa Vale do Araguaia, realizada entre maio e junho de 2023. Participaram da caravana representantes da Rede ILPF e das instituições associadas. O pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril Flávio Wruck foi um dos participantes e destacou a relevância do trabalho feito na propriedade.
“Ele fez o consórcio de milho com braquiária após a soja para fazer silagem.
Colheu a silagem e agora vai para a terceira safra, que seria o boi de terceira safra aqui nesta resteva. Estamos falando de solos arenosos que precisam de aporte de matéria orgânica anualmente muito forte. Se quiser produzir soja em altos patamares nesse tipo de solo você tem que aportar muita matéria orgânica, muito carbono. E a integração vem com esse objetivo aqui”, analisa o pesquisador Flávio Wruck.