Quando comprou o primeiro talhão em 1987 do que hoje se tornou a Fazenda Esperança, em Santa Carmem (MT), Invaldo Weiss tinha em mente trabalhar apenas com pecuária de corte extensiva. Foi assim até 1995, quando passou a arrendar parte da propriedade para agricultores. Vendo que a atividade era lucrativa para os arrendatários, decidiu ele mesmo fazer a agricultura a partir de 2001. Começou com o plantio de milho e 20 hectares de soja.
Ao longo do tempo, na medida em que o produtor ganhava experiência e confiança, o espaço com lavoura foi crescendo. No entanto, agricultura e pecuária caminhavam de forma isolada na propriedade. A mudança começou a ocorrer quando Invaldo conheceu a integração lavoura-pecuária e a integração lavoura-pecuária-floresta em visitas à Embrapa Agrossilvipastoril e participando de eventos. Desde então vem adotando gradativamente as tecnologias e modificando todo o sistema da fazenda.
Na safra 2021/2022, a propriedade cultivou 2.680 ha de lavoura de soja. Dessa área, 2.000 ha foram cultivados com milho na segunda safra, 180 hectares receberam plantas de cobertura e 500 hectares viraram pastagem, sendo 56 hectares em ILPF e o restante em ILP. Outros 800 hectares da fazenda contam com pastagem, sendo parte da área anteriormente rotacionada com a lavoura. A Fazenda Esperança conta também com 8 hectares de reflorestamento de eucalipto e cerca de 2.500 ha de vegetação nativa.
De acordo com o produtor, a adoção dos sistemas integrados possibilitou mudar a dinâmica do sistema de cria, sobretudo com a inversão da estação de monta.
“Na pecuária convencional, eu teria de fazer a estação de monta nas chuvas, com nascimentos em outubro e novembro. Aí o bezerro está no pé da vaca no início das chuvas. Dá muita requeima, pois a [braquiária] Brizanta esqueta com sol quente e o bezerro está com a pele sensível. Então perdia muito bezerro. Aí comecei a mudar a data da inseminação. Inverter a estação”, explica.
Outra motivação para inversão da estação é o mercado e a disponibilidade de boi gordo em um momento diferente daquele em que há maior oferta.
“Eu não tinha mais como terminar boi a pasto antes de iniciar a seca. Entregava um ano depois, no final da chuva, que é o momento de pior preço. Para fugir dessa situação, mudei a estação, comecei a adubar os pastos, jogar calcário… Consegui uma matriz numa situação melhor. Na estação tradicional a vaca estará com bezerro grande na entrada da seca e ele ainda estará amamentando. Aí ela fica couro e osso. Hoje, se olhar as vacas que desmamamos, não estão gordas, mas estão de 500 kg para cima. Dificilmente tenho vacas em desmama com menos de 500 kg”, argumenta o produtor.
Atualmente a fazenda conta também com um confinamento onde é feita a terminação dos animais. O local é sombreado com árvores para garantir melhor conforto térmico para o gado, que começa a ir para o abate com 16 a 18 meses, no caso dos novilhos precoces.
“Antes de usar a integração, estação de monta invertida e terminação em confinamento, o gado ia para abate com 36 meses. O primeiro lote não saía com menos de 30 meses. Hoje são, no máximo, 24 a 26 meses”.
Na fazenda Esperança a pecuária é feita em ciclo completo, com a maior parte das matrizes da raça nelore. Parte delas é inseminada com sêmen da raça asturiana. O uso da raça espanhola é fruto de um acordo com frigorífico local e a rede de supermercados Carrefour. O primeiro lote da raça foi abatido em agosto de 2022, com a previsão de pagamento de bônus de 5% nos machos e 3% nas fêmeas.
As vacas ficam todas nos pastos de integração lavoura-pecuária, que são os únicos com forragem de qualidade no período seco do ano, de junho a setembro. O uso da ILP possibilitou o fornecimento de capim de qualidade na seca. Os bezerros nascem de maio a julho, período com menor mortalidade e maior facilidade de manejo. Ao mesmo tempo, os bezerros passam o período seco mamando e ganhando peso. São desmamados no período chuvoso e, no próximo período seco já são encaminhados para o confinamento.
A preocupação com o bem-estar animal também se reflete em outros pontos da fazenda. Um curral anti-stress foi construído nos últimos anos. Isso possibilita uma maior tranquilidade no manejo do rebanho e evita lesões.
Todos os pastos possuem bebedouros com água encanada, ofertando-se assina água limpa e de qualidade e evitando-se o acesso dos animais aos cursos d’água.
Nos 56 hectares de ILPF da fazenda foi utilizado o eucalipto como espécie arbórea. A madeira se destina ao uso na própria fazenda, tanto no secador de grãos, quanto na retirada de lascas para as cercas.
O plantio ocorreu em renques de linhas triplas, com distância de 90 metros entre eles. O dimensionamento visou permitir três passadas do maquinário fazenda entre as árvores. Parte das árvores já vem sendo colhidas. Em alguns renques foram retiradas duas linhas e em outros uma linha.
A última inovação da fazenda, visando aumentar a sustentabilidade e também reduzir custos de produção foi a instalação de uma usina fotovoltaica para fornecer energia para toda a propriedade.
Gabriel Faria (MTB 15.624 MG)
Embrapa Agrossilvipastoril
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